Artigo de opinião de Mário Abrantes
Dados estatísticos referentes ao mês de Janeiro de 2015 revelaram que durante esse período faleceram mais 1900 portugueses do que em Janeiro de 2014. A faixa etária mais atingida por este acréscimo foi a de 75 anos ou mais.
Que me perdoem os jornalistas e comentadores que se esforçam por nos tentar justificar esse acréscimo ora com o frio que veio mais forte, ora com a maior agressividade da estirpe do vírus da gripe, ora com outros fatores aleatórios que aparecem por igual nos outros anos ou que atingem em simultâneo as diferentes classes etárias. O que estes dados seguramente nos indicam é que se está a morrer mais cedo em Portugal, e portanto, a repetir-se esta tendência, isso significa que a esperança média de vida (que, sem sustentação fidedigna conhecida, já serviu para o acréscimo, primeiro de um ano e depois mais dois meses, à idade da reforma) estaria agora a diminuir…
A triste e gritante incapacidade de resposta dos sistemas nacional e regional de saúde, que nos tem quotidianamente trazido más notícias sobre a vida de milhares de utentes, bem como o confisco geral e continuado ao valor das prestações sociais são, de entre outros, fatores objetivos passíveis de provocar a morte prematura dos portugueses, em particular dos mais idosos.
E se enquanto isto acontece os responsáveis do governo português, dizendo que não querem voltar atrás no caminho percorrido com a troika, recusam liminarmente a ideia de qualquer renegociação duma divida cujo pagamento tem desviado para os agiotas as verbas indispensáveis ao melhor e mais justo funcionamento dos sistemas de saúde e da segurança social, então será legitimo afirmar que a morte prematura dos portugueses não é inevitável nem devida a condicionantes alheias à nossa vontade. Ela é e continuará a ser objetivamente decorrente das opções políticas deste governo.
Por outro lado traz seguramente consequências nefastas, tanto para a esperança e qualidade de vida como para o crescimento económico, o facto de (segundo o INE), chegados a 2014, ver atirados para o desemprego cerca de 35% dos jovens portugueses (incorporando os atuais quase setecentos mil desempregados) e o facto de se assistir de 2010 até final de 2013 a um acréscimo de 160.000 portugueses a viver em risco de pobreza, isto é, com menos de 411 euros por mês, totalizando mais de dois milhões de cidadãos nessa situação, com as crianças a serem, por tabela, as mais atingidas.
E se, desvalorizando de forma criminosa estes dados, os responsáveis do governo reafirmam a intenção de manter inflexível o rumo das suas políticas, fechando os olhos aos ventos de mudança que começam a soprar pela Europa, aos quais nem o próprio presidente dos EUA foi alheio quando, referindo-se à Grécia, afirmou que “não se pode continuar a apertar os países que estão em depressão” e que “tem de haver uma estratégia de crescimento para que esses países possam pagar as dívidas”, então será legitimo concluir que foi por opção governativa fria e consciente que se empurrou mais de um terço da juventude para o desemprego e se estendeu a mais de 2 milhões (incluindo cerca de 500.000 trabalhadores) o número de pobres em Portugal.
Ao recusar liminarmente discutir a renegociação de uma dívida cada vez mais asfixiante e opressiva, o governo PSD/CDS, por mais que o desminta, não serve os interesses de Portugal e dos portugueses. Só por isso, era a este governo e não aos idosos que deveria ser cortada de imediato a esperança de vida. Esperança em nome da qual, já agora, seria útil que, em matéria de renegociação da dívida (como em outras), a liderança de António Costa no PS se posicionasse de forma mais clara e comprometida do que tem acontecido até à data…