A propósito da greve dos pilotos da TAP, Marcelo Rebelo de Sousa disse que "quem ganhou foi o governo e quem perdeu foram os pilotos". A mim ocorre-me opinar de forma diferente, acho que ninguém ganhou, e que quem perdeu e continuará a perder, não com a greve dos pilotos em exclusivo, mas com toda a situação que se vive na TAP, na sequência da tentativa por parte do governo da sua privatização (ainda para mais em marcha acelerada), é a própria TAP, o país e são os portugueses.
Mesmo correspondendo por ventura à opinião de muita gente sensata, da sua utilidade para interromper este processo obtuso e aprofundar o debate público sobre as reais vantagens ou desvantagens da privatização da TAP, ninguém quererá saber desta minha opinião para coisa alguma...
Já para efeito de (des)informação publica e concentração das atenções sobre o acessório, o destaque vai certeiro para a opinião daquele que é considerado um dos mais abalizados comentadores televisivos atuais, e essa opinião é que merece ser publicitada, replicada e reeditada em tudo o que são notícias, seja em TV, rádio ou jornais, durante dias após ter sido emitida.
Mudando de estação televisiva, um fenómeno paralelo e do mesmo quilate se passa com outro abalizado comentador, de sua graça Marques Mendes, o qual, de resto e por possuir acesso privilegiado (e conveniente) às fontes governamentais, adiciona aos seus dotes de comentador o sugestivo papel de adivinho.
Goebbels foi decerto um dos inspiradores destas duas cabeças e das máquinas de propaganda que por baixo as suportam.
Depois da terceira cabeça, na terceira estação televisiva, ter ido parar à cadeia de Évora, o espaço opinativo nacional ficou desta feita controlado na prática por dois ativistas e ex-líderes do PSD. Com a aproximação das eleições, este abjeto cerco partidário aperta-se mais e torna-se até absurdo.
O que vemos? Um país inteiro à beira das legislativas mas obrigado a debruçar-se, num deboche informativo, sobre as presidenciais e, em particular sobre a escolha do candidato do PSD, onde um dos abalizados comentadores (M. Mendes), sem um pingo de vergonha, propõe o outro para tais funções (M. R. Sousa) e onde o outro, da vergonha em aceitar de supetão, aponta para um terceiro nome (Rui Rio) que, no íntimo, desejaria ver relegado para as calendas gregas.
Tudo isto, sendo essencialmente um problema específico do PSD, é abusivamente vertido por duas grandes estações televisivas sobre a cabeça dos portugueses, por via de comentadores ditos "isentos" mas que se comentam a si próprios, e transformado em informação prioritária, privilegiada e de interesse nacional pelo servilismo da comunicação social em geral.
Não fossem as duas estações televisivas onde opinam dominadas por gente da sua laia e afinidade política (com mais um ex-lider do PSD dono de uma delas) e há muito que, em nome da liberdade de informação e do pluralismo democráticos, estes dois ex-líderes do mesmo partido ou não estavam já a comentar, ou então estariam sujeitos ao contraditório pela presença simultânea de um leque mais alargado de opiniões.
Mas, cientes de que são numerosos e pesados os males praticados que se impõe varrer da memória coletiva para evitar a sua estrondosa derrota, PSD e CDS não estão ainda satisfeitos e agora, mesmo sem o PS, insistem em condicionar de forma mais estreita a cobertura informativa da campanha eleitoral, por via da alteração da respetiva lei. Chega de manipulação!
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 17 de maio de 2015