O povo grego (tal como o português desde os PEC's e depois a troika) foi involuntariamente submetido durante os últimos cinco anos a sucessivas medidas de austeridade e empobrecimento impostas pela Comissão Europeia e pelo FMI e avalizadas pelos seus governantes, mas pelo voto livre nas últimas eleições manifestou claramente a vontade de mudar de governo e interromper as políticas que têm vindo a destruir a economia, a coesão social e mesmo a identidade nacional gregas. Afrontando uma Europa em uníssono, o esforço entretanto encetado de reafirmação da vontade nacional desembocou na convocação de um referendo visando questionar de forma expressa a imposição à Grécia de um novo e humilhante programa de resgate financeiro.
Refazendo-se de alguma desorientação pela impossibilidade de impedir tal consulta democrática, de imediato os responsáveis do diretório europeu, apologistas da submissão acrítica dos povos a tratados não referendados, levantaram uma onda de chantagens sobre o povo grego com o objetivo de o pressionar e interferir no resultado do referendo, ameaçando até que a vitória do NÃO significaria o não pagamento de salários e pensões (onde é que já ouvimos isto?) ou, como afirmou o presidente da Comissão Europeia, corresponderia ao "suicídio" dos gregos. Mantendo a ilegítima pressão sobre o SIM, mas tentando salvar a máscara que ainda esconde uma Europa dominadora, prepotente e enfeudada à oligarquia do grande capital financeiro, Junker apresentou novas propostas que, não deixando no essencial de configurar o mesmo programa e a continuidade das irracionais políticas de austeridade, continham algumas eventuais cedências de última hora, como a possibilidade de renegociação da dívida e alargamento dos seus prazos de pagamento, visando amaciar o governo grego e fazer infletir a sua posição para o lado do SIM ou até para a desconvocação do referendo.
Qualquer que seja o desenlace final desta batalha, forçado de momento a responder isoladamente a uma ofensiva poderosíssima do diretório europeu e dos (algozes) credores da dívida, é tempo de solidariedade com o povo grego, quanto mais não seja porque da sua resistência a essa ofensiva, e por menores que sejam quaisquer eventuais conquistas daí advenientes, beneficiarão certamente países como Portugal. É bom lembrar a este propósito que, em companhia da Grécia, Portugal é atualmente o maior devedor europeu ao FMI, tal como, também em companhia da Grécia, tem assistido com pesados e inúteis sacrifícios (segundo o Nobel da economia Paul Krugman) aos sucessivos falhanços das políticas de austeridade visíveis na insustentabilidade da dívida pública, na falta de crescimento e de investimento, no nível de desemprego, e na subida dos juros que já se está a verificar. Apesar disso, neste confronto, as posições do Presidente da República, do governo português e dos partidos que o apoiam, têm sido a do alinhamento vergonhoso e autista com o diretório europeu. Mas não é de estranhar nem a indignidade da posição de Cavaco, que não disfarça o seu mesquinho despeito pelos gregos, como a indignidade da atitude de um governo que deveria era estar a ser julgado por comprovadamente não acautelar o interesse nacional, conforme (deste vez) o Tribunal de Contas concluiu a propósito da venda das participações públicas na EDP e na REN. Como poderia haver solidariedade com o povo grego da parte de quem reiteradamente tem demonstrado não ser solidário com o seu próprio povo?
Mas também da parte do PS é lamentável a posição de alinhamento com o diretório europeu, expressa pela voz do seu Presidente, ao condenar o "radicalismo do governo grego, destruidor da unidade europeia"...
Qualquer que seja o desenlace final desta batalha, forçado de momento a responder isoladamente a uma ofensiva poderosíssima do diretório europeu e dos (algozes) credores da dívida, é tempo de solidariedade com o povo grego, quanto mais não seja porque da sua resistência a essa ofensiva, e por menores que sejam quaisquer eventuais conquistas daí advenientes, beneficiarão certamente países como Portugal. É bom lembrar a este propósito que, em companhia da Grécia, Portugal é atualmente o maior devedor europeu ao FMI, tal como, também em companhia da Grécia, tem assistido com pesados e inúteis sacrifícios (segundo o Nobel da economia Paul Krugman) aos sucessivos falhanços das políticas de austeridade visíveis na insustentabilidade da dívida pública, na falta de crescimento e de investimento, no nível de desemprego, e na subida dos juros que já se está a verificar. Apesar disso, neste confronto, as posições do Presidente da República, do governo português e dos partidos que o apoiam, têm sido a do alinhamento vergonhoso e autista com o diretório europeu. Mas não é de estranhar nem a indignidade da posição de Cavaco, que não disfarça o seu mesquinho despeito pelos gregos, como a indignidade da atitude de um governo que deveria era estar a ser julgado por comprovadamente não acautelar o interesse nacional, conforme (deste vez) o Tribunal de Contas concluiu a propósito da venda das participações públicas na EDP e na REN. Como poderia haver solidariedade com o povo grego da parte de quem reiteradamente tem demonstrado não ser solidário com o seu próprio povo?
Mas também da parte do PS é lamentável a posição de alinhamento com o diretório europeu, expressa pela voz do seu Presidente, ao condenar o "radicalismo do governo grego, destruidor da unidade europeia"...
Decididamente deverá concluir-se que pela tentativa de imposição da via única de submissão aos grandes interesses financeiros, a Democracia está a ser banida dos horizontes desta Europa que nos quer (des)governar.
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 6 de julho de 2015