"É preciso avisar toda a gente, dar notícias, informar prevenir, que por cada flor estrangulada, há milhões de sementes a florir", cantavam Luis Cília ou o Padre Francisco Fanhais, alimentando a alma de um povo humilhado e semeando a revolta, quando ainda poucos acreditavam que o fim do regime fascista pudesse estar próximo.
Hoje uma seita de imberbes e toscos capatazes do neo-liberalismo europeu que se apossaram do poder em Portugal voltaram, como diria Rui Namorado, a apertar com cinismo o pescoço ao povo. Gente capaz de cometer a mais torpe e miserável patifaria e qualificá-la de seguida como uma obra política meritória.
Torna-se por isso imperioso usar novamente a força do poema para alertar toda a gente, dar notícias, informar, prevenir contra esta outra gente.
Gente capaz de criar 640 mil desempregados, mais 260 mil inativos e mais 250 mil subempregados entre os 4,8 milhões de portugueses em idade ativa;
Gente capaz de mandar para a emigração as maiores vagas de sempre, 120 mil emigrantes em 2012, outros tantos em 2013 e mais 110 mil em 2014;
Gente capaz de pôr um em cada cinco trabalhadores a ganhar o salário mínimo, num crescendo de 73% desde 2011;
Gente capaz de desinvestir na saúde e semear o caos nas urgências, provocando o aumento da mortalidade em 11% só entre Julho de 2014 e Julho de 2015;
Gente capaz de pôr 48 mil cidadãos a comer todos os dias em cantinas sociais e pôr quase dois milhões a viver no limiar da pobreza;
Gente capaz de pôr 656 mil cidadãos a passar por caloteiros por deixarem de conseguir pagar a prestação da casa;
Gente capaz de endividar o país ao ritmo de mais 43 milhões de euros por dia, só no 1º semestre de 2015;
Gente capaz de entregar todo o sector estratégico da economia portuguesa a interesses privados externos, nalguns casos ao preço da chuva, noutros, já em fim de mandato, às três pancadas e em modo de saque, como a TAP ou agora o metro e os STCP do Porto;
Gente capaz de assumir, à revelia dos portugueses, múltiplos compromissos com a UE que conduziram ao empobrecimento geral, tal como aquele outro que assumiram já sem mandato para 2016, propondo-se cortar mais 300 milhões de euros na prestação de serviços públicos e mais 600 milhões nas reformas e pensões;
Gente desta, capaz de fazer o que tem feito ao longo dos últimos anos, não deveria ter direito a gozar férias descansada e muito menos pretender ganhar eleições...
E o poema prossegue, "É preciso avisar toda a gente, segredar a palavra e a senha, engrossando a verdade corrente, duma força que nada detenha"...
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 27 de agosto de 2015