Artigo de opinião de Mário Abrantes
Já praticamente morta por desgaste informativo, a guerra dos cartazes (outdoors), que funcionou como mais uma batalha político-informativa aleatória para empolar artificialmente a bipolarização entre PSD/CDS e PS (como outras que ainda estão para vir até dia 4 de Outubro), suscita duas questões, essas sim importantes, em meu entender:
- Mal vai quem, para publicitar as suas “verdades”, tem necessidade de recorrer a pessoas “falsas”. Mesmo depois de retirados os cartazes polémicos, aos seus promotores fica por essa via indelevelmente associada a mentira política como arma de propaganda, isto é, a mentira como instrumento de conquista do poder;
- A comunicação social e os comentadores de serviço de forma acrítica alimentaram até mais não esta disputa estéril, deixando de lado questões tão sérias como o simples levantar do véu aos rios de dinheiro que alguns, não todos, gastam em material de propaganda eleitoral do género dos outdoors.
Mas deixemos por agora a propaganda partidária direta e passemos à propaganda partidária indireta disfarçada de informação, que além do mais se diz e está constitucionalmente obrigada a ser plural.
Recentemente a empresa Marktest revelou a existência de uma autêntica máquina de propaganda subliminar, escondida por trás dos principais canais de TV nacionais que diariamente ligamos, ao denunciar que esses canais durante o mês de Junho passado deram mais de 16 horas de presença direta aos membros dos partidos do governo e ao Presidente da República que os tem suportado, 22 horas no total se acrescentarmos o terceiro partido da troika - o PS (a quem deram 6 horas de presença direta), e reservaram os “restos” com 3 horas para os restantes (PCP/CDU e BE).
Mais recentemente ainda um levantamento exaustivo efectuado aos comentadores políticos frequentadores habituais dos principais órgãos de imprensa e de TV nacionais efetuado por António Vilarigues e apresentado no jornal “Avante!” dá-nos mais resultados interessantes para avaliar do seu grau de pluralismo e isenção.
Os orgãos de comunicação abrangidos foram na imprensa escrita, o “Público”, “Diário de Notícias”, “Expresso”, “Correio da Manhã”, “Diário Económico” e “Jornal de Notícias”, e na TV, a RTP- Informação (a RTP generalista desde Julho deixou de ter participações deste tipo), a SIC, a SIC-Noticias, a TVI, a TVI-24 e a CMTV.
Os resultados foram os seguintes: Excluindo os comentadores que se têm mostrado mais independentes como Pacheco Pereira, Ferreira Leite, Rui Moreira, Paulo Morais, Carvalho da Silva ou Daniel Oliveira ficamos com 16 comentadores da área do PS, 15 da área do Governo (PSD/CDS), 5 do Livre/Tempo de Avançar, 4 do BE, 1 do PDR, 1 do Agir, e num espaço de opinião semanal do Jornal de Notícias aberto a todos os partidos finalmente aparece entre eles o PCP/CDU, pela única vez…
Mesmo sem adicionar os pseudo-desalinhados que, como Camilo Lourenço, homem da direita bafienta, ou Henrique Raposo saltam entre jornais e televisões para falar de tudo, desde economia, política, futebol e até culinária, fica claro como, em nome de livres critérios editoriais e de informação (sempre invocados por Provedores e Entidades Reguladoras para calar protestos e reclamações) se ofende a liberdade do leitor e do telespetador retirando-lhe o acesso mediático equilibrado (e sequer mínimo nalguns casos e nalgumas ocasiões) às diferentes correntes de opinião político-partidária com representatividade no país.
Em Democracia, mais a mais em tempo de pré-campanha eleitoral a liberdade de informação merece tanto respeito e consideração como a liberdade de ser informado e o direito a não ser manipulado. Também no sector da informação uma outra política é precisa em Portugal.
Nota de rodapé: Justiça seja feita, esta insana mordaça informativa nacional colocada sobre opiniões afetas à área política do PCP/CDU não é felizmente aplicável aos Açores…