Branda derrota, mas ainda assim e apesar de todas as manobras manipuladoras, bipolarizadoras e ilegítimas para a evitar, uma derrota eleitoral, por mais que os próprios, o PSD e o CDS, e muita comunicação social à mistura proclamem vitória. Isto, para não falar dos Açores, onde essa derrota tanto do PSD como do CDS, desta feita não coligados, foi bem mais ajustada às malfeitorias praticadas pelo seu governo ao longo dos últimos quatro anos...
Na verdade o aumento da abstenção de 41 para quase 44 % a nível nacional, contrariando aliás rotundamente mais de uma hora (perdida) de programa de José Rodrigues dos Santos no canal púbico a propósito de uma sondagem que garantia o contrário, mostra-nos que ainda houve muitos portugueses a optar, apesar de tudo, pelos brandos costumes e por não condenar expressamente nas urnas os partidos da direita e as suas políticas devastadoras. Muitos deles provavelmente da área do PS fizeram-no por desilusão com o desempenho do seu partido que, de tiro em tiro nos pés durante a campanha, não lhes terá merecido a credibilidade suficiente como alternativa ao governo de direita.
Mas certo certo, de entre as forças políticas que detinham representação parlamentar na anterior Assembleia da República (Bloco de Esquerda, PCP e Verdes, PS, PSD e CDS), a coligação PSD/CDS, foi a única que perdeu votos e mandatos, e não foram poucos: mais de 700.000 votos e pelo menos 23 deputados. Todas as outras forças subiram, tanto em número de votos como de deputados, passando o PS de 73 para 85 (fora os da emigração), o BE de 8 para 19 e a CDU de 16 para 17.
Nos Açores todas estas tendências se acentuaram, com o PSD e o CDS (na versão "Aliança Açores") a descerem de quase 60% dos votantes em 2011 para cerca de 40% em 2015, e o PS e o BE em sentido inverso a subirem respectivamente de 25,7% para mais de 40% e de 4,4 para 7,8%, e com a CDU a manter os seus 2,5%.
Postas as coisas desta forma não se entende muito bem, da parte de António Costa na noite das eleições, o porquê do seu reconhecimento derrotista de uma "vitória clara" por parte da coligação de direita. É que a simples soma dos deputados eleitos pelo PS e pelo BE dá 104 (fora os da emigração), ou seja, exactamente o mesmo número de deputados que os eleitos pelo PSD e pelo CDS. E isto sem contar à esquerda com mais 17 deputados do PCP e dos Verdes...
As contas dão assim, como suporte potencial de governo, uma maioria clara (absoluta) de deputados na Assembleia da República à esquerda do PSD e que defendem a mudança das políticas antes seguidas pelos agora minoritários PSD e CDS.
Sabido que Cavaco, em estertor final de fidelidades partidárias, ideológicas e aos instrumentos de submissão europeia, à custa do exercício do cargo de Presidente da República, quer ver Passos Coelho como primeiro-ministro de um governo minoritário, caberá à oposição maioritária procurar uma solução alternativa para obviar à posse ou à continuidade imediata de tal governo, a não ser que o PS esteja preferencialmente na disposição de o viabilizar bem como ao seu programa e orçamento (já que tanto a CDU como o BE desde domingo passado se mostraram indisponíveis para tal).
E isso, de certa forma, significa devolver à direita a força que os eleitores portugueses lhe retiraram em 4 de Outubro...
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 8 de outubro de 2015