Entretanto, Carlos César, este fim-de-semana, no Congresso Regional do PS, ao efectuar o balanço dos dois últimos anos de governação socialista na Região afirmou que “foi como subir o Pico com um fardo às costas. Nós a trabalhar e o continente a puxar para baixo”. No entanto, Carlos César não diz é que já se “esqueceu” da promessa feita aos jovens açorianos quando o Governo da República decidiu acabar com os juros bonificados para aquisição de habitação, altura em que referiu que seria encontrada uma alternativa para os jovens da Região. O certo é que passado tanto tempo, ainda se continua a aguardar tal alternativa… O que César não referiu é que a “mania” da aposta no turismo – não como sector económico complementar mas como alternativa à nossa base económica – está a ser feita, em alguns casos com elevados custos em termos de impacte ambiental e destruição da paisagem (como será o caso da construção do hotel e do campo de golfe na Ribeira Grande, em plena zona pertencente à rede natura 2000). O que César não disse é quais serão os custos económicos da “febre” de alienação de património público e de criação de empresas públicas (que certamente exigem um quadro de técnicos e gestores, possivelmente muito bem pagos pelos cofres da Região).
O que o Presidente do Governo Regional se “esqueceu” de referir igualmente é que segundo os dados estatísticos do desemprego este tem diminuído porque as estatísticas não são feitas tendo por base a população em idade activa, mas sim com base no número de inscritos nos Centros de Emprego e Formação Profissional (incluindo muitas vezes pessoas que se encontram a frequentar formação profissional) … O que este Governo continua sem dizer, é que temos os agricultores a passarem por enormes dificuldades, fruto da Política Agrícola Comum que tem tentado asfixiar completamente a nossa agricultura… ou que temos os nossos pescadores a passarem por dificuldades enquanto outros usam e abusam das riquezas dos nossos mares, delapidando os recursos marinhos que temos… O que se “esquecem” igualmente de dizer, é que, ao contrário do que é veiculado pelo secretário da tutela, temos grandes e graves problemas nas escolas açorianas, começando desde logo pelo 1º Ciclo do Ensino Básico. Continuamos a ter crianças com três e quatro anos sem acesso ao Ensino Pré-Escolar – apesar do Sr. secretário referir o contrário – temos professores que nem fotocópias conseguem tirar para os seus alunos tais são as restrições orçamentais por parte da tutela.
O que se “esquecem”, é que vivemos numa Região composta por nove ilhas e onde, apesar do conceito de desenvolvimento harmónico e equilibrado do todo regional, as discrepâncias entre ilhas, quer em termos de desenvolvimento, quer em termos de investimento público, são enormes. Mas nós não esquecemos que temos sido governados ora por socialistas, ora por sociais-democratas e que a actuação em termos de políticas de fundo é basicamente igual, tirando uma nuance aqui ou acolá… Segundo eles, vivemos num paraíso… para nós, a realidade é bem diferente!
Lurdes Branco em "Politica" no Açoriano Oriental em 22/11/05