Artigo de opinião de Paulo Santos:
É obrigatória a reversão da privatização da TAP. Desde logo, releva a importância estratégica da empresa, assegurando proximidade entre continente, Regiões Autónomas e mundo lusófono. A natureza pública da missão de serviço aéreo em Portugal é incompatível com a lógica do mercado concorrencial puro, e as ligações a estas ilhas são disso bom exemplo.
Mas o processo encetado, além de ilustrativo do fanatismo liberal das “paf's”, é também demonstrativo da vontade em favorecer grupos de interesse determinados. Senão vejamos. Após concurso pautado pelo secretismo, ainda não é conhecida a real estrutura acionista do consórcio vencedor, avultando dúvidas sobre quem de facto é o dono da TAP. O negócio foi fechado sem parecer prévio do regulador, formalizado por governo de gestão, vinculando os contribuintes em dívida de 776,7 milhões da empresa já privatizada. O Estado, perdendo o controlo da estrutura, constituiu-se primeiro garante nas operações bancárias subjacentes à apregoada capitalização. Em caso de prejuízo, o erário público suportará os “erros” de gestão dos “empreendedores”.
Para justificar o injustificável, inventaram-se mentiras sobre a impossibilidade de financiamento público. Já 10 companhias na UE dele beneficiaram. Desenharam-se cenários apocalípticos acerca do estado atual da empresa, todos avalizados por “insuspeitos” consultores indicados pelos próprios concorrentes! Entretanto, foram colocados à venda (em saldo) os terrenos da Portela, que albergam escritórios e oficinas, indiciando futura deslocalização. O comprador é a multinacional VINCI, já dona da ANA, que aprofundará sua posição monopolista no setor. Pois bem, o caderno de encargos foi escondido até ao fim, logrando subtrair à discussão pública todo o seu conteúdo essencial. Agora sabemos porquê.