Artigo de opinião de Paulo Santos:
A despolitização da vida social no ocidente parece doença sem remédio. Fica bem glorificar o entretenimento estupidificante veiculado pelos “reality shows” e afins. Sempre em detrimento dos “aborrecimentos” associados à participação cívica.
Não admira que os critérios competitivos do mercado massificado se vão transferindo para o debate público. Ganha quem “berrar” mais alto, quem for mais contundente, quem causar mais e maior sensação; sempre sobre as maiores irrelevâncias. A populaça diverte-se e resulta cumprida a aspiração dos mandantes do mundo. Enquanto poucos enriquecem à custa da apropriação indevida da propriedade pública, muitos sucumbem à miséria e à desgraça, inebriados pelo “colorido” da publicidade mediática.
Nesta realidade distorcida, convém não pensar ou problematizar muito. Importa ser-se direto, simplificar, cortar a direito e falar alto. Não é a concentração do capital, o desprezo pelo trabalho ou a ganância dos monopolistas, a razão dos males do mundo. O problema são os muçulmanos, os negros, os chineses, os mexicanos, e pasme-se, os desgraçados que vivem da previdência. É mais fácil assim. Trata-se de uma velha receita dos poderes instituídos para aprofundar a exploração em seu proveito. Ainda hoje resulta.
Veja-se o candidato Trump. Apesar de toda a demagogia, cumpre papel fundamental para a “irmandade” do capital, ganhe ou perca. Enquanto aí andar, não se fala da miséria, do desemprego, da exploração, da indigência, que proliferam no seu país e no mundo. Fala-se de muros contra “invasores” mexicanos e de expulsar muçulmanos do ocidente. Todos se manifestam contra estas tolices, uns genuinamente outros porquanto lá tem de ser. De um modo ou de outro, é nestes termos que se desenvolve o debate. É A derradeira manobra de diversão.