A SATA passou a ser assim o garante absoluto da extensão colateral para as restantes ilhas desse acréscimo de visitantes, ao mesmo tempo que se teve de manter como garante da mobilidade inter-ilhas (a custo zero nos casos de encaminhamento), com o Continente e com as Comunidades, dos residentes e dos emigrantes açorianos. Daqui se tira que, com o novo modelo de transporte aéreo (e a condenável deserção da TAP do serviço público nos Açores) a decisiva importância estratégica da SATA para o Arquipélago, para a sua economia e para a sua coesão, não só se manteve como se reforçou e muito. Tira-se também (e aí estão as empresas de baixo custo a atestá-lo), que o interesse comercial e lucrativo da exploração do transporte aéreo nos Açores incide sobretudo na exploração da rota entre Lisboa e Ponta Delgada.
Obviamente que há muito a fazer para que a SATA continue a ser uma empresa pública, regional e forte, tanto no mercado nacional como internacional, mas facilmente se deduz também que não é possível assegurar em quaisquer circunstâncias a rentabilidade financeira de um complexo de rotas que estão ao seu cuidado (serviço público incluído), de que as companhias de baixo custo apenas compartilham a parte comercialmente rentável, ainda para mais com a garantia de verem cobertos pelo Estado (por nós portanto) os diferenciais entre os cada vez mais frequentes elevados preços das passagens e os preços máximos pagos pelos residentes ou estudantes açorianos.
Assim, se fosse por diante a privatização da SATA, cuja apologia foi abusivamente feita nos Açores pelo Secretário de Estado Sérgio Monteiro do ex-Governo de Passos Coelho e Paulo Portas, no ato público de inauguração do novo modelo de transporte aéreo, em março de 2015, e tem sido veiculada por alguns agentes económicos sedeados em Ponta Delgada, significaria em minha opinião que mais tarde ou mais cedo, fatalmente, a companhia aérea açoriana deixaria de o ser verdadeiramente e passaria a investir sobretudo, tal como a Ryanair ou a EasyJet, no destino de Ponta Delgada e nas rotas desta cidade com o exterior, deixando progressivamente, e de forma democraticamente não escrutinável pelos cidadãos e instituições públicas, de cumprir os atuais e estratégicos compromissos de transporte aéreo com os Açores e os açorianos, ou exigindo do poder político regional e nacional um sobre esforço financeiro muito superior ao atual para os continuar a garantir.
Dada a ambiguidade e indefinição das atuais posições oficiais sobre esta matéria por parte da maioria das diferentes forças políticas concorrentes às próximas legislativas regionais, incluindo o próprio partido do governo, seria muito útil portanto que estas forças se pronunciassem clara e publicamente, antes do dia 16 de outubro próximo, sobre aquilo que é de facto uma questão incontornável, relacionada com o nosso futuro coletivo.
Aqui deixo o desafio a quem de direito...
Artigo de opinião de Mário Abrantes