Artigo de opinião de Mário Abrantes:
Face à derrota eleitoral da coligação de direita em 2015, passado que foi o desnorte pela inesperada formação de um governo PS com suporte maioritário de esquerda na Assembleia da República, o qual se propunha interromper as celeradas políticas austeritárias e liberalizadoras dos últimos anos, os principais órgãos privados de comunicação social portugueses, refletindo a mudança de tática política adotada pelos seus donos, perderam definitivamente a já pouca neutralidade que antes exibiam, no que foram vergonhosamente acompanhados pelos órgãos de comunicação públicos.
Assim, de forma despreocupada com qualquer critério de pudor ou isenção informativos, fazendo uso diário de um exército servil e monocórdico de comentadores e jornalistas (ou de jornalistas opinativos, se quiserem), iniciaram uma operação de ataque continuado ao novo 1º Ministro e à sustentação da nova solução governativa encontrada para o país, enquanto, jogando como só os media sabem fazer com a fulanização da política, se afadigaram na escolha e promoção de figuras alternativas a Passos Coelho e Paulo Portas que entretanto entraram em declínio de popularidade irreversível, tal como já vinha acontecendo antes com a figura do presidente Cavaco e Silva.
Para atingir o seu desiderato, os desfulanizados "donos" da comunicação social (cujos interesses muitas vezes se confundem, não por acaso, com os da alta finança e do atual diretório europeu) começaram por jogar tudo no órgão político submetido a sufrágio mais próximo, precisamente a presidência da República, e tinham para isso na mão um fortíssimo trunfo: Marcelo Rebelo de Sousa. Tratava-se de um fulano do PSD que se tornara popular através de uma campanha promocional feita durante mais de 10 anos na televisão, ora pública ora privada, e cujo passado e presente políticos lhes dava à partida garantias para tentar inverter os resultados de outubro de 2015.
E assim foi. Conseguida a eleição, trata-se agora de alimentar a popularidade e a hiperatividade opinativa do fulano Presidente (e eventualmente as suas vaidades íntimas) para, por desmerecimento paralelo do 1º Ministro e exploração das eventuais contradições do seu governo, tentar que, em caso dos resultados serem desfavoráveis à esquerda nas eleições autárquicas de 2017, o Presidente sinta força para demitir o governo e convocar eleições antecipadas.
Mas nem tudo corre sobre rodas nesta frente de combate dos donos da comunicação social portuguesa. Por um lado as sondagens indicam que a popularidade do governo de António Costa e dos partidos que o suportam na Assembleia da República tem vindo sempre a aumentar relativamente à dos partidos da anterior coligação governamental, e por outro o presidente Marcelo, arrastado na sua imparável torrente opinativa, começou a escorregar de forma inconveniente, e abrindo talvez o jogo, quando defendeu, de forma até desadequada às suas competências, que as PPP (parcerias público-privadas) na saúde eram intocáveis, ou quando, ajudando ao branqueamento do fascismo português, decidiu condecorar António Champalimaud.
Visando (sempre) a retoma das políticas da coligação PSD/CDS, impôs-se então aos donos dos media abrir uma nova frente e atalhar o caminho do declínio das figuras de ponta desses dois partidos. Daí que, aproveitando a saída em negócios de Paulo Portas, já esteja em curso uma outra grande e consertada campanha mediática visando a promoção pública da figura de Assunção Cristas, promoção essa que, por sua vez possibilitará ao PSD intentar a lavagem da cara com o afastamento da figura de Passos Coelho da sua liderança.
Pois que se vão embaraçando os patrões dos media a jogar aos figurões que enquanto isso o povo e o país vão recuperando algum do fôlego perdido...
Artigo de opinião de Mário Abrantes