O PS obtém a maioria absoluta de deputados e o conjunto PS – CDU – BE aproxima-se dos 60% dos votos, o que é inédito.
2. Em 20 de Fevereiro votaram mais portugueses que em 2002, o que significa que a má situação em que o País se encontra serviu para mobilizar os eleitores para uma mudança. A votação verificada certamente surgiu para punir o PSD – PP por todas as trapalhadas que fomos vendo, trapalhadas essas que desmobilizam as pessoas, mas o facto do número de eleitores ter aumentado faz-me concluir que a vontade maior do eleitorado foi a de punir a política que foi feita. É preciso que o PS, agora com maioria absoluta, perceba com clareza isso mesmo e não tenha a tentação de prosseguir com a mesma política económica e social.
3. A CDU voltou a ser a 3ª força política do País. Contra os ventos e as marés do preconceito e da ideia feita a CDU não só trava a descida, como reinicia a subida. Mas para além disso e fruto da campanha eleitoral credível que realizou, a CDU soube lançar as sementes que irão germinar em novos e sólidos apoios no futuro. As próximas autárquicas já permitirão ver bem esse efeito de recuperação.
4. O BE subiu muito, quer em votos, quer em mandatos. Alguns acalentavam a ideia de que era bom “que o BE subisse para que a CDU desaparecesse”, mas esses enganaram-se redondamente. A CDU não perdeu para o BE porque cresceu de forma quase uniforme, em todo o País e até aumentou para norte as suas áreas de influência elegendo em Braga e elegendo o segundo deputado no Porto. Penso que a CDU consolidou o seu eleitorado e compensou algumas perdas com o reforço da sua capacidade de conquistar novos eleitores. Fica, entretanto, no ar a questão: de onde vieram os votos do BE? Penso que a resposta embora complexa, se situa no facto de ter havido uma fortíssima mudança eleitoral que envolveu centenas de milhares de eleitores. Certamente que muitos anteriores votantes do PSD e até do PP votaram PS, muitos anteriores votantes do PS votaram BE, muitos anteriores abstencionistas votaram PS, BE e CDU. Os partidos à esquerda cresceram sem que nenhum deles alimentasse os restantes, o que, sendo excelente, cria a todos a enorme responsabilidade de trabalhar para consolidar os seus apoios.
5. Falta saber que política vamos ter. Seria muito mau se o PS interpretasse os resultados de forma leviana e prosseguisse com a política neoliberal. O eleitorado quis a mudança e maioritariamente deu ao PS a oportunidade de a fazer, mas não foi um voto cego, porque ao mesmo tempo, deu mais votos e mais força institucional às outras forças com projectos de mudança.
6. Os resultados nos Açores acompanharam a tendência nacional. O PS ganhou; o PSD perdeu muito; o PP muitíssimo; o BE cresceu e a CDU também cresceu. O que foi diferente nos Açores foi a abstenção que se cifrou por 51,8%, o que é muitíssimo embora tenha sido ligeiramente mais baixa do que em 2002. A pouca importância que os dois maiores partidos dão nos Açores às eleições para a Assembleia da República explicam, em boa medida, esta diferença em mais 20 pontos na abstenção nos Açores, em relação ao resto do País.
21 de Fevereiro de 2005 José Decq Mota