O ano de 2008 e este de 2009 já nos deram indicação suficiente de que é urgente uma clara ruptura com a política de concentração capitalista e de especulação financeira, que arrasta países para a ruína, que enfraquece os sistemas produtivos onde os trabalhadores têm direitos, que aprofunda, até ao limite, a exploração do trabalho, que faz tábua rasa dos direitos sociais de natureza civilizacional que foram conquistados, especialmente no século XX.
Os Povos não podem aceitar que o combate à enorme crise que se abateu sobre o sistema capitalista se resuma a um esforço de reposição da situação anterior, marcada pela prevalência do dogma neoliberal e pelo domínio selvagem do capital sobre as politicas de cada Pais e de cada zona do Mundo.
Vamos, pois, para o 1º de Maio de 2009 lutar para que a transformação a fazer passe pela valorização dos trabalhadores e pela garantia de que o investimento público, em curso ou projectado, é integrado nesse objectivo.
2. Trinta e cinco anos depois do 25 de Abril estamos a ver situações que não passavam pela cabeça daqueles que viveram, de forma plena, esse período transformador. A Liberdade está “descolada” da justiça social e, em grande parte transformada, tão só, na “liberdade de explorar”; a Democracia está minada pela acção, corrupta e interesseira, de muitos titulares de cargos, a vários níveis e é, tendencialmente, entendida como o “direito de votar”; as escolhas eleitorais estão, em geral, condicionadas pela capacidade económica das candidaturas e dos partidos e, aqui, a balança tende sempre para os partidos que, pela política que fazem, defendem os dogmas económicos dos dominadores.
Trinta e cinco anos depois do 25 de Abril, por muitas e muito grandes que tenham sido as transformações positivas, e foram, estamos presenciar, situações surrealistas e completamente inaceitáveis que, porventura, nos fazem estar mais perto de uma nova revolução do que do 25 de Abril, como disse há dias Pedro Gaspar.
As respostas a dar têm que ser lúcidas, a todos os níveis.
No plano geral há que recusar uma globalização que não tenha como objectivo central e primacial o reconhecimento, defesa e valorização da dignidade humana.
No plano Europeu há que recusar o modelo dominador dos países ricos sobre os outros, sustentado numa “classe” de eurocratas vendidos e há que lutar por uma Europa de paz e cooperação, constituída por países soberanos, livremente associados num projecto comum de desenvolvimento que a todos aproveite.
No plano nacional há que estabelecer uma ruptura com a política de direita há muito reinante, valorizar a produção nacional, o trabalho, elevar o nível de formação e escolaridade, aprofundar a democracia participativa e repor muitos dos caminhos que Abril abriu e que a direita e o PS, obcecada e servilmente, têm fechado.
No plano regional também há novos e melhores caminhos a seguir que passam, desde logo, por um melhor aproveitamento da capacidade de legislar, regionalmente, de forma mais adequada.
No plano local há que saber dar resposta, serena e adequada, aos “desvarios” pouco claros daqueles que nunca se quiseram conformar com o facto politico mais importante que ocorreu no Faial, desde há uma dúzia de anos, e que foi o fim do bipartidarismo municipal. A este tema voltarei, claro.
A luta a realizar, a todos os níveis, é uma luta transformadora, profunda, séria, com verdadeira perspectiva de futuro.
Que vivam o 1º de Maio e o 25 de Abril!
Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado no jornal "Tribuna das ilhas", no dia 1 de Maio de 2009