É já no próximo sábado que festejamos os 35 anos da Revolução dos cravos, momento alto de emancipação do povo português.
Aquele momento, ímpar na História recente portuguesa, culminou com o fim de 48 anos de fascismo, que tanto mal fez (e continua a fazer) a Portugal e aos portugueses.
Não será, de todo, descabido dizer, que muito do atraso que o nosso país continua a enfrentar advém, ainda, de tantos anos de obscurantismo, medo e reacção. Reacção ao justo apelo do povo pela liberdade e igualdade, pelo fim da guerra colonial, ou por uma plena democracia, que continua a minar (a reacção) a sociedade e a deturpar as justas ambições do povo português, por melhores condições de vida e mais justiça social.
Também antes de 1974, tal como hoje, com o governo PS, os comunistas serviam como bode expiatório para todos os males e fraquezas, más opções políticas e desmesuradas campanhas negras. À imagem do que acontecia antes da Revolução, sempre que alguma contestação se fazia sentir e ouvir, fruto das más condições de vida da maioria dos portugueses, lutando com a força da razão, também hoje vemos, em qualquer local por onde passa, o primeiro-ministro a ser vaiado e assobiado, situação que se estende à maioria dos responsáveis do governo.
Como há mais de três décadas e meia, a desculpa acompanha as opções políticas erradas, mas conscientemente tomadas: são, diz novamente Sócrates, os comunistas. Num aspecto terá, o responsável do executivo, razão: sempre que houver injustiças para com os trabalhadores, os mais fracos e oprimidos, o PCP estará lá não sozinho, mas acompanhado por todos os que se indignam com o desrespeito e o desprezo com que este e todos os outros governos saídos do 25 de Abril, têm tratado o povo deste país.
Apesar das muitas expectativas criadas pelo fim da ditadura, e não obstante as muitas alterações positivas no quotidiano dos portugueses, a triste realidade é que muito continua por concretizar. O acesso à educação, à saúde e à justiça foi generalizado; aumentaram-se as pensões mais baixas, redigiu-se, em 1976, a Constituição da República Portuguesa, onde foram inscritas importantes lutas travadas pelos trabalhadores e o povo, como o direito de manifestação e concentração, o direito à greve, o direito a férias pagas, licenças de maternidade e paternidade, o direito à liberdade de expressão e, o mais importante, o direito a ter direitos, que até àquela altura, era privilégio de poucos, muito poucos.
Todavia o que já foi referido, a verdade é que muito ficou, até aos nossos dias, por fazer. Que o digam, nomeadamente, os mais de 500 mil desempregados, bem como o tal milhão de precários (a caminho, muitos, dos tais 500 mil desempregados), ou ainda, os mais de 2 milhões de pobres conhecidos oficialmente, os mais de 60 mil licenciados no desemprego (!), os milhares de jovens a recibo verde, ou mesmo, os milhares de portugueses que se viram obrigados a emigrar, abandonando (involuntariamente) as suas famílias, na procura de um melhor salário ou, simplesmente, de um posto de trabalho (mais estável). Para todos estes, o momento emancipador que foi o 25 de Abril, rigorosamente caracterizado na nossa Constituição de 1976, ainda não chegou, e parece tardar a chegar.
Nestes trinta e cinco anos que distam daquele maravilhoso dia, existem factos que, por muito floreados e reescritos que sejam, jamais poderão subverter a verdade: PS, PSD e CDS foram os únicos partidos do poder, por isso os responsáveis directos da política que efectuaram (e efectuam, como temos visto), que nos tem levado ao passado, com mais desigualdades sociais, mais sacrifícios para os mesmos, e benesses para os do costume. Esta situação, meus amigos, não carece de mais comprovação.
De facto, julgo que não foi para isto que tantos homens e mulheres morreram e tantos outros lutaram, para que o 25 de Abril chegasse ao povo, para que hoje todos possam gozar da sua liberdade individual e colectiva. Julgo que é tempo de dizer basta. É tempo de cumprir e fazer cumprir a Constituição de 1976, cujo projecto político progressista e humanista, continua, no essencial, por consumar. É tempo de, em acérrima época de ataques aos direitos de quem trabalha, nomeadamente com o aproveitamento a que assistimos a propósito da crise, responder com a mesma convicção e frontalidade, como mais um contributo para denunciar aquilo que vai mal, e, ao mesmo tempo, assumir mais um direito saído da Revolução: o direito a festejar, em luta como agora se exige, o dia da liberdade e o dia de todos os trabalhadores.