A estrondosa vitória da CDU em 2005 deu lugar a uma não menos estrondosa derrota em 2009. Será fácil apontar o dedo e ditar sentenças, prévias e intencionais como alguns fizeram, ou posteriores como outros irão fazer. Mais difícil, porém, é procurar as reais razões de tal situação.
O mandato autárquico que agora termina foi, disso não tenho duvida, muito mais equilibrado, produtivo e criativo do que a generalidade dos mandatos exercidos com maioria absoluta, quer pelo PS, quer pelo PSD. Esse equilíbrio, essa produtividade e essa criatividade resultaram da dinâmica que a pluralidade do executivo gerou e que determinou uma permanente discussão das questões, discussão essa que esteve na base de um desempenho muito activo de todos os membros da Câmara com funções executivas. Concluo, com convicção, que os eleitos de ambos os partidos que formaram a maioria plural se empenharam em contribuir para que o mandato, apesar das condicionantes financeiras, fosse um mandato útil e inovador. Concluo, com igual convicção, que essa postura da maioria plural gerou e deu lugar a posições novas, de que são exemplo o desenvolvimento do complexo processo do saneamento básico, a nova e muita inovadora forma de abordar os problemas sociais, o modo criativo e não dirigista de realizar politicas culturais, politicas para a juventude, politicas ligadas às novas tecnologias, politicas ligadas ao mar e várias outras.
Após se conhecer os resultados eleitorais pode concluir-se que todo esse esforço plural reverteu, na definição do sentido de voto, apenas para uma das partes, tendo sido claramente a base da recuperação, pelo PS, da maioria absoluta.
Há, entretanto, outra questão que tem que ser considerada. Como toda a gente sabe nada me liga ao Dr. Santana Lopes, mas há uma questão que ele levantou agora e que concordo com a forma como ele a levantou. Estou a referir-me à questão das sondagens feitas em plena campanha eleitoral e que introduzem dados que não deixam de influenciar a decisão de muitos eleitores. Aqui no Faial foi publicada, na 4ª feira antes das eleições, uma sondagem da responsabilidade de uma empresa conhecida, sondagem essa que referia a existência de um muito duvidoso empate técnico, que não se verificou e que, dando a CDU a descer, assegurava, no entanto, que a Coligação elegeria um vereador, o que também não se verificou. É, entretanto, óbvio que essa sondagem influenciou eleitores, gerou um movimento concentracionista do voto e foi esse movimento que ajudou a que voltasse a surgir a maioria absoluta. É indispensável que a legislação sobre sondagens seja alterada e que elas sejam proibidas depois de iniciado um processo eleitoral.
Esta questão, sendo importante, não pode encobrir o problema de fundo, que é o de saber se, sim ou não, as maiorias plurais são exequíveis sem que nenhuma das forças que integrem esse entendimento seja prejudicada. A resposta que resulta dos presentes resultados parece bem clara, mas considerar essa conclusão como um dogma, seria o mesmo que admitir um bloqueamento definitivo na evolução dos comportamentos democráticos. Espero bem que o nosso processo democrático venha a evoluir para uma maturidade que comporte a existência de entendimentos políticos plurais, sem clubismos, aproveitamentos e manipulações. Foram muitas as centenas de pessoas que me afirmaram, durante a campanha eleitoral, que era muito desejável que não voltasse a haver maioria absoluta de um só partido na Câmara. Foram menos do que era indispensável os que votaram em conformidade com esse pensamento.
Considero, como muitas vezes afirmei, que este regresso à maioria absoluta é mau para o Faial, mas foi essa a decisão popular e, naturalmente, respeito essa decisão. Tal respeito, no entanto, não me impede de, como sempre fiz, antes e durante a maioria plural, de lutar pelos interesses da minha terra. O que não quero nunca é vir a publico lançar a confusão como alguns fizeram persistentemente, ou, em nome de um contributo que se afirma querer dar, apenas contribuir para que muita coisa regrida, como foi o que resultou da actuação de outros.
Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado no jornal "Tribuna das Ilhas" no dia 16 de Outubro de 2009