Na intervenção no jantar da CDU Açores de comemoração do 25 de Abril, Martinho Batista defendeu que, tal como aconteceu a 25 de Abril de 1974, cabe agora ao povo português romper com as amarras da Europa e da política de direita, que nos afunda e afoga. Presos aos interesses das grandes potências europeias e do grande capital, o retrocesso vivido após a Revolução de Abril levou-nos ao passado, com a perda de soberania e independência, com o empobrecimento do povo português, com a destruição da produção e a venda do país ao estrangeiro.
Cabe agora ao Povo Português, nas eleições legislativas deste ano, recuperar a dignidade e retirar do poder os que lhe têm infernizado a vida.
Intervenção de Martinho Batista
A Revolução de Abril constitui uma realização histórica do povo português, um acto de emancipação social e nacional.
A Constituição da República é subvertida a partir do próprio poder político pelas forças de direita que há mais de 38 anos governam o País.
A contra-revolução assume hoje claramente a reconfiguração do estado democrático atacando ferozmente todas as funções sociais conquistadas com a revolução de Abril:
Serviço Nacional de saúde; Escola Pública; Segurança Social; Justiça; Segurança das populações e um ataque sem precedentes ao Poder Local Democrático e às próprias Autonomias Regionais.
A Autonomia Regional e tudo o que ela representa para os povos da Madeira e dos Açores foi e é uma das mais importantes conquistas de Abril, uma conquista consagrada na Constituição da República, elemento essencial da livre assunção da governação pelos cidadãos das Ilhas e do desenvolvimento das suas Regiões, uma Autonomia que deve ser aprofundada e não restringida pelo centralismo da política de direita.
Na actual situação o Governo tenta agora vender, a qualquer preço, tudo o que resta do sector público, que possa ser altamente rentável para o capital, como são exemplo os inadmissíveis casos:
do sector da Águas (Sistemas multimunicipais de Água e Saneamento); dos resíduos sólidos (EGF); dos transportes (TAP, CP Carga, linhas urbanas ferroviárias, Carris, Metro, Transtejo),
Tudo a entregar ao privado por grosso e a pataco...
Para isto até vão alterar o regime jurídico do serviço público
A poucos meses das eleições para a Assembleia da República o Governo tenta tudo para acelerar as chamadas reformas estruturais agora com o chamado PEC1 – Pós Troyka, para dar continuidade à submissão e às estratégias da UE e do grande capital Europeu. "A Troyka continua a dar cartas".
É o fartar vilanagem!
E ainda vêem tentar convencer o Povo que o País está no bom caminho?
A dívida não pára de aumentar e o País com uma economia anémica e em declínio.
O País perdeu a sua soberania e está completamente dependente das orientações emanadas da UE: Tratado orçamental; Semestre Europeu e todas as directivas que condicionam a nossa capacidade e liberdade de produzir, como são os casos da extinção das cotas leiteiras e do pescado.
Como diz o nosso Povo "Lá se fazem cá se pagam...
E a soberba dos EUA quanto à Base das Lajes? Depois de 70 anos a servir-se como quis, sem dar nada em troca, deixa agora, com a drástica redução da presença militar, mantendo a base à sua disposição, um rasto de desemprego, de problemas sociais, económicos e ambientais, na Ilha Terceira, sem qualquer garantia de os resolver.
O Governo da República sempre a acocorar-se....
É urgente uma ruptura com esta política, é urgente uma mudança na vida nacional que abra caminho à construção de uma política patriótica e de esquerda, uma condição e um imperativo nacional para assegurar justiça social e progresso, e, um país soberano e independente.
Mas antes de mais é preciso derrotar o Governo e esta política de direita.
É preciso impedir que esta política prossiga sob outras formas e outras caras.
Não queremos mais alternâncias que mais não têm servido para manter tudo na mesma.
É esse o objectivo que deve fazer convergir as forças políticas, sectores sociais, personalidades democráticas e patriotas que aspiram a uma política alternativa e a uma alternativa politica, que assegure uma vida digna ao nosso Povo.
Na luta do dia-a-dia mas também nas eleições que aí vêem, todos não são de mais.
E também, já amanhã, nas Portas da Cidade e também nas comemorações do 1ºde Maio, façamos delas importantes jornadas de luta.
Mais do nunca impõe-se comemorar e defender Abril lutando para que Abril se cumpra, as suas conquistas e os seus valores, que, apesar de mutilados, continuam a representar importantes direitos e avanços económicos, sociais e culturais, para o futuro do nosso País e para os Açores.
Há outro caminho
Está nas mãos e na vontade do Povo retomar hoje o projecto libertador do 25 de Abril.
Lembremos a poetisa (Sophia de Mello Breyner Andresen- "O nome das coisas") que cantou Abril com grande emoção mas também auspiciando outra madrugadas vindouras do nosso e de tempos futuros:
Viva o 25 de Abril!