Cátia Benedetti foi apresentada este fim de semana como candidata da CDU ao Parlamento Europeu.
A apresentação contou também com João Ferreira, 1.º candidato, Mariana Silva, também candidata, proposta pelo PEV, e Vítor Silva, coordenador regional da CDU. Na apresentação, João Ferreira salientou que todos os 28 deputados da CDU são também candidatos açorianos, como demonstra a atividade dos 3 atuais deputados da CDU no PE, apresentando cada um maior intervenção sobre os Açores do que os candidatos residentes.
Das inúmeras visitas feitas ao longo deste mandato - como sempre acontece, aliás - os deputados da CDU desdobraram-se em perguntas à Comissão Europeia, propostas e intervenções em nome dos interesses regionais. Em todas as grandes questões, os deputados da CDU estiveram do lado dos Açores - na recusa do fim das cotas leiteiras, na política de pescas ou no apoio aos custos da insularidade, apenas para dar alguns exemplos.
Do encontro saiu mais reforçada a convição de que, se o passado dos eleitos da CDU dá mais do que razões para saber o que estes valem quando toca a defender a Região, cada voto na CDU nas próximas eleições europeias será decisivo para dar mais força à intervenção confiante e determinada em defesa dos nossos direitos e interesses!
Ver mais sobre a candidatura da CDU ao Parlamento Europeu em https://www.cdu.pt/parlamentoeuropeu2019/
Notas biográficas
CÁTIA BENEDETTI
Nascida em Itália, reside nos Açores desde 1987, tendo-se naturalizado portuguesa.
É doutorada em Literatura Italiana. Foi docente universitária na Universidade dos Açores entre 1987 e 2017, tendo lecionado várias disciplinas literárias e linguísticas do primeiro e segundo ciclo. É autora de várias publicações no campo dos estudos literários.
Ao lado da atividade científica e pedagógica também desenvolveu uma regular atividade de tradutora, especialmente na vertente da tradução legal.
Em finais dos anos 90 começou a participar ativamente nas iniciativas da CDU, e em 2012 tornou-se membro do PCP, desenvolvendo desde então várias tarefas nos concelhos de Lagoa e Ponta Delgada, e no âmbito do secretariado de Ilha.
Em 2018 tornou-se funcionária política do PCP.
Foi candidata ao Parlamento Europeu nas eleições de 2014.
É membro da Direção Regional dos Açores e do Secretariado Regional do PCP.
Intervenção de Cátia Benedetti
Caros camaradas e amigos,
Pela segunda vez a CDU indicou-me como candidata residente nos Açores no processo eleitoral que se avizinha. Como há cinco anos, senti-me honrada com isso: aceitei novamente esta tarefa, com mais convicção e determinação, e até com mais vontade de ser útil.
Isto porque os cinco anos que passaram demonstraram plenamente o fundamento das nossas razões, a validade dos nossos argumentos, a necessidade e a premência da nossa luta, que também passa, necessariamente, por conseguirmos o reforço da nossa representação no Parlamento Europeu.
Nestes cinco anos, aqui na Região, a nossa organização manteve nas nove ilhas uma intensa atividade de contacto com as realidades locais, com as populações e com o mundo do trabalho. Ouvimos e tomámos bem nota dos problemas, das necessidades e das aspirações, com o objetivo de os transmitir aos nossos representantes na Região, na República e na União Europeia. A verdade é que muitas vezes, analisando um determinado assunto, tivemos de chegar à conclusão que uma ou outra diretiva europeia chocava frontalmente com os interesses legítimos de quem queria trabalhar, produzir mais e melhor, criar emprego ou investir na nossa terra os conhecimentos adquiridos no seu percurso formativo. Muitas vezes ficou claro que os assuntos deviam ser remetidos diretamente para os nossos deputados em Bruxelas.
Tudo isto reforçou em mim a convicção de que nestas eleições, tantas vezes ignoradas por uma parte demasiado extensa da nossa população, estão em jogo os aspetos mais essenciais das nossas vidas. Se não, vejamos. Se não há emprego, isto acontece essencialmente porque algures se decidiu que em Portugal o tecido industrial fosse destruído, grandes áreas agrícolas fossem abandonadas, a nossa frota pesqueira fosse desmantelada; porque algures se decidiu que o país ficasse dependente de um setor terciário, não produtivo, obviamente exposto a qualquer flutuação das economias mais fortes: economias, essas sim, que produzem fartamente, e inundam os mercados de forma a poderem escoar os excedentes que geram.
Mas negar a um país o seu direito à produção é negar aos seus habitantes todos os direitos que nele assentam, desde logo uma vida digna e autónoma: Que se produza leite, peixe, açúcar, maquinaria industrial, cultura ou arte, é no “fazer” que se inscreve a integridade do homem. O direito ao trabalho e à sua justa compensação é o direito humano inegociável sobre o qual se edificam todos os outros. E é justamente este que a União Europeia põe crescentemente em causa, através de uma proliferação legislativa que já nem esconde, como durante anos ainda tentou fazer, a sua marca d’água ideológica: a afirmação de um capitalismo desenfreado, que opera através da desregulamentação: ora compradores, ora mão de obra barata, cada vez mais barata, os povos de muitos países já não acreditam na virtude de uma ordem política sobre a qual nunca foram consultados, nunca foram tidos nem achados.
E, entretanto, assistimos ao esvaziamento progressivo do direito e da capacidade dos cidadãos dos diferentes países de decidirem sobre o seu trabalho, sobre a sua saúde, sobre a educação que querem dar aos filhos, sobre o país que querem ou o país que não querem. Como disse a nossa mandatária Ana Margarida de Carvalho, a lógica que conduz o jogo é a do domínio e da subordinação, “como se isto da Europa fosse uma grande empresa em que quem manda é o acionista que tem mais ações”. E como se fosse com base na conveniência dos grandes grupos financeiros e económicos que as pessoas devessem viver satisfeitas, sacrificando-se em prol de uma minoria cada vez mais rica e potente, aceitando ou até apoiando o diktat de não produzirem aquilo de que precisam, mas comprá-lo de fora; de não terem horários certos de trabalho nem segurança no emprego; de não terem casa, nem filhos nem tempo para si e para a família; de não terem um sistema público de saúde ou um sistema público de segurança social que as ampare na doença, no desemprego ou na velhice.
Neste contexto, muitos perderam a confiança na democracia representativa, cada vez mais amputada do seu real significado, cada vez mais formal e de fachada. Mas a resposta da abstenção é em si mesma um contributo ao problema, por sinal muito útil aos interesses de quem insiste em subtrair as pessoas da equação, considerando-as números, utensílios, meros joguetes na mão dos grandes grupos económicos e financeiros. As pessoas sentem-se impotentes, e a esta sensação juntam-se os efeitos de infectas e manipulatórias campanhas destinadas a provocar uma rejeição pura e simples da política, anulando a distinção entre os que trabalham em prol das populações e que verdadeiramente as representam, cumprindo assim o objetivo primordial da política, e outros, que da política se servem para proveito próprio.
Consideramos que nada neste processo é inocente, pois inscreve-se num projeto bem faseado, que nos tem conduzido à paulatina afirmação de um pensamento único, que grosso modo poderíamos traduzir na suposta inevitabilidade de um capitalismo desregrado, colando-lhe em cima a ideia de que isto é “a Europa”.
Não, amigos, não, camaradas: a Europa é outra coisa. A Europa é um espaço geográfico feito de diferentes países, línguas, culturas, modos de vida, que encerra uma intensa história de contatos, transformações, lutas, experiências sociais, avanços e retrocessos. Mais do que uma ideia, a Europa é um viveiro de realidades, de dinâmicas coletivas demasiado enraizadas nas nossas memórias e identidades, para que em escassas décadas se possa fazer tábua rasa de tudo isso e imaginar uma Europa federalizada e plana, um mar sem ondas onde imperam poderes sem rosto nem país, alheios às necessidades e às vontades reais e diferentes dos seus povos. A Europa não é a União Europeia, certamente não é esta União Europeia que já desesperadamente nos tentam impor como se não houvesse outros horizontes.
Desiludam-se aqueles que gostariam que não houvesse discursos incómodos, que não houvesse quem levantasse questões reais, concretas, reivindicando o que é de justiça reivindicar: como os nossos deputados no Parlamento Europeu fizeram nestes anos, produzindo uma quantidade ingente de relatórios, pareceres, perguntas. Três deputados
nossos produziram 43% dos pareceres emitidos pelos 21 deputados que Portugal tem no seu conjunto, e 57% das perguntas escritas. Entendam que não é sem uma ligação constante com as estruturas nacionais e locais a moverem-se no terreno que se obtêm estes números, que já revelam o empenho de todo o nosso coletivo: mas, mais até do que a quantidade, importa realçar a qualidade da sua intervenção. Os nossos três deputados, no mandato que agora finda, fizeram mais e melhor pelos Açores do que aqueles representantes que se insiste em definir incorretamente como “deputados dos Açores”: da fileira dos laticínios ao ananás, do setor das pescas ao das carnes, da produção vitivinícola à sustentabilidade energética ou às políticas de transporte, os nossos eleitos sempre estiveram concretamente ao lado dos açorianos, esforçaram-se por tornar audíveis as suas aspirações, e votaram sempre de forma coerente com esses propósitos. Nas suas muitas visitas à Região, nem uma só vez defenderam alguma coisa para depois, em Bruxelas, votarem nas propostas contrárias.
Nos próximos dois meses, no acrescido diálogo com as populações, com os trabalhadores, com os produtores e com os agentes económicos das nossa ilhas, haverá modo de demonstrar de forma documentada, setor por setor, o sentido e o alcance desse trabalho. Mas hoje queria essencialmente apelar a todos – àqueles que consideram a política uma dimensão distante das suas vidas e dos seus interesses, e especialmente àqueles que se dispõem a renunciar ao exercício do seu direito de voto – que abram bem os olhos: que se perguntem honestamente: “O que vai acontecer se, como eu, muitos outros não fizerem a sua parte, se eu deixar que poucos outros decidam por mim?”
No voto, e só no voto em quem representa os interesses de quem vive do seu trabalho, de quem de outra coisa não dispõe para assegurar o presente e o futuro próprio e das suas famílias, exprimem-se muitas mensagens: de que rejeitamos uma política de pensamento único, que sacrifica a maioria das pessoas ao interesses de alguns; de que não aceitamos que se regresse a tempos obscuros, à pobreza envergonhada, à desigualdade considerada como destino pessoal, à falácia da inevitabilidade do sofrimento e da carência; não aceitamos que se regresse aos tempos da jorna, como hoje voltou a acontecer sob a forma de trabalhos temporários, recibos verdes, contratos-programa, estágios fictícios e outras coisas mais, impondo-nos a precariedade sob conceitos tão fumosos quais empreendedorismo difuso ou flexisegurança, confundindo assim as novas gerações e todos aqueles que engrossam o pesado contingente dos subempregados.
É pelo voto certo que afirmamos a nossa oposição à crescente militarização, ao enorme aumento das despesas militares que subtrai os recursos necessários a garantir a eficácia das funções sociais dos estados; é pelo voto certo que rejeitamos o intervencionismo armado ou o intervencionismo económico bem patente no posicionamento da União Europeia em cenários tão diversos como o Médio-Oriente, o Sahara Ocidental e a Venezuela. Repetiremos até a exaustão que não é bombardeando, destruindo países ou colocando em estado de carestia povos inteiros que se afirmam os direitos humanos, para depois recusar aos refugiados e aos migrantes em fuga de países assolados pela guerra ou pela pobreza mais extrema o
acolhimento e o direito a uma existência digna, negando aos seres humanos aquela liberdade de circulação que se pretende ilimitada para as mercadorias e para o dinheiro.
É pelo voto certo que rejeitamos o avanço da extrema direita e dos populismos que agora tanto preocupam quem lhes facilitou de vários modos o caminho. Nós defendemos que importa combatê-lo agindo sobre as suas causas profundas: o exponencial ataque que o capital e a finança moveram ao trabalho: a insegurança e a frustração reais que daí derivam e que depois são aproveitadas para espalhar o medo e o ódio, para que as pessoas não se unam contra quem as explora mas sim contra o “outro”, contra aquele se quer fazer passar por diferente, mas que é alguém tão ou mais explorado do que elas.
Nós combatemos a ideia de que os direitos individuais são matéria diversa dos direitos laborais e sociais. Nós combatemos a ideia de que o planeta seja um recurso a explorar até à exaustão, para obter lucros imediatos, desrespeitando as gerações presentes e vindouras.
Mas, para além de tudo a que nos opomos e de tudo o que combatemos, o voto na CDU vale sobretudo por aquilo a que abrimos as portas: a visão de uma sociedade mais justa e igualitária; a construção de uma democracia avançada, concreta, real, que não se esgote numa cidadania periódica, numa ou noutra fase eleitoral. Esta é a nossa teimosa esperança, é a afirmação tenaz de uma memória coletiva capaz de mobilizar a força, a energia e a paixão de que necessitamos para que outros, muitos outros, se nos juntem neste caminho, que não é o mais fácil, que não é breve, que não promete o paraíso para amanhã nem fins da história bem arrumados, mas é o único pelo qual vale a pena lutar. Porque não, a história não parou, e nós não deixaremos de ser parte dela, como não deixaremos, nestes dois meses que nos separam do dia 26 de maio, de ouvir e de apresentar propostas; nem deixaremos de estar atentos à realidade e às necessidades destas nove ilhas, como fizemos no passado e como faremos já a partir do dia 27, e com mais força e mais capacidade de intervenção se assim os cidadãos o entenderem.
Ponta Delgada, 30 de Março de 2019