Deprimentes baldes de água fria sempre enquadraram a manifesta falta de delicadeza e de conveniência com que a verdade frequentemente se declara.
Afinal foi granizo e não neve o que, no passado dia 29 de Dezembro pintou de branco os acessos às Sete Cidades. Correcção triste (em especial para os entusiasmados que, como eu por exemplo, espalharam rapidamente a notícia até às antípodas) mas irremediavelmente verdadeira. E isto porque, para aqueles que lidam quotidianamente com o clima e cientificamente aprenderam a explicá-lo, os meteorologistas, é muito improvável que alguma vez esse fenómeno venha a acontecer onde se disse (e se espalhou) que aconteceu…E já estou até capaz de dizer que, para eles, seria despiciendo ir ao local colher amostras comprovativas da sua afirmação.
Engano sem importância. O seu móbil foi inocente e tão simplesmente a ilusão da neve a alegrar os corações de quem, não estando acostumado com ela, já se desacostumara dos efeitos depressivos trazidos por um Inverno como há mais de uma década não acontecia por estas ilhas…
E, de constipação em constipação, esses rigores trouxeram uma pandemia que se espalhou em velocidade relâmpago pelo mundo, mais sob a forma de pânico instigado do que, como se está tornando progressivamente evidente, em consequências catastróficas pré-anunciadas. Engano premeditado este. O balde de água fria não caiu a tempo de evitar que se fizesse o maior negócio mundial do século. A gripe A, agora tida como menos agressiva e prejudicial que a gripe comum, encheu incomensuravelmente de satisfação (lucros, entenda-se) os laboratórios que produziram a respectiva vacina. Tudo à custa de uma monstruosa máquina de propaganda estimuladora, montada com acólitos nos governos e nos órgãos de comunicação do mundo inteiro. Em Portugal, seriam adquiridas mais de 2 milhões de vacinas, segundo a Ministra…e agora não há quem as queira. Lixo é o seu destino (ou os chamados países subdesenvolvidos, mesmo sem alguma vez as terem solicitado). Tão só um hediondo crime de lesa orçamentos públicos, em tempo de crise, cujos culpados nunca serão julgados!
E estará em vias de cair um balde de água fria sobre o “aquecimento global”? Que dirão os europeus ou os chineses, atravessando o Inverno mais rigoroso de há muitos anos a esta parte? E as calotes polares (se falassem…) recuando de um lado, mas crescendo do outro? E mesmo os atarefados criadores dos modelos de aquecimento, mudando oportunamente o termo para “alterações climáticas”, para prosseguir (e progredir) noutro incomensurável negócio à escala planetária: o da compra e venda de emissões de CO2?
A necessidade dos cuidados
higio-sanitários para a prevenção da gripe, ou a necessidade do combate
à poluição provocada pela actividade humana, são necessidades em si
mesmo. Para os casos em presença, foram (estão) a ser utilizadas à
escala do planeta como móbil ilícito (e delapidador de recursos) para
acobertar incomensuráveis e lucrativos negócios que apenas beneficiam
alguns.
Não foi o granizo em lugar da neve, foram baldes de água fria o que de importante este Inverno trouxe…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado no jornal "Diário dos Açores" na sua edição do dia 14 de Janeiro de 2010