A voz de Ana Loura no "Asas do Atlântico"

ana_loura.jpgQuanto mais velha estou mais feliz fico quando se aproxima a data do meu aniversário. Não, não faço anos nos tempos mais próximos. Agora terei que esperar quase trezentos dias para ter a alegria de dizer: Mais um...este já cá canta, ninguém mo tira.
Fazer anos é sinal de vida. Dos que morrem costumamos dizer que “faria tantos anos se estivesse vivo” dos que vivem dizemos: fará tantos anos...falamos ou no presente ou no futuro ou mesmo dizemos que fez queremos dizer que fez porque vivia. Fez no passado dia 6 de Março 85 anos o Partido Comunista Português. Não é um facto como outro qualquer. Significa que desde há 85 anos há pessoas, muitas pessoas, que abraçam o ideal da luta pelos que mais precisam. Gente de diversas condições sociais que acreditaram e acreditam que uma sociedade mais justa e fraterna é possível e lutam por ela, intervieram e intervêm na sociedade de forma a transformá-la. Só assim foi possível que o Vinte e Cinco de Abril acontecesse: muitos reconheceram que a sociedade daquela época era injusta, acreditaram ser possível a mudança e lutaram por ela, transformando-a Muitos deram a sua vida por esta causa. Uns deram a vida, entregando cada um dos seus dias ao trabalho político outros acabaram por dar mesmo a vida morrendo pela causa comunista, pelo ideal dessa sociedade mais fraterna e mais justa.
 
Não podemos falar da História do Partido Comunista Português sem falarmos no dia-a-dia do Povo português. As duas são indissociáveis. O aniversário deste ano coincide com o balanço de um ano de governação de Sócrates. Se a maioria do povo Português deu, há um ano, a possibilidade de Sócrates governar com uma maioria absoluta, é certo que, neste momento se o arrependimento matasse, como se costuma dizer, muitos portugueses teriam morrido de arrependimento e frustração neste último ano: Sócrates passou por cima de muitas das suas promessas eleitorais, a política está desacreditada pela atitude arrogante de Sócrates. O governo PS está a atacar o sector público, com a justificação manhosa do déficit. Os partidos de direita esfregam as mãos de contentes. Aos patrões da CIP e da CAP saiu-lhes a sorte grande: têm quem faça o “trabalho sujo” do grande capital com o selo de um governo “socialista”. A direita afirma que este Governo tem a coragem para fazer as transformações que o País precisa e aqui leia-se as transformações que convêm à própria direita. O anúncio da OPA da Telecom já deu ganhos a Belmiro de Azevedo e provocou um aumento de 2% nas acções da Portugal Telecom. Os salários reais dos trabalhadores portugueses tem descido drasticamente nos últimos meses. O poder de compra cada vez é mais baixo. O desemprego aumenta vertiginosamente.
 
Os números reais ultrapassam em muito os números anunciados pelos Governo pois a grande maioria dos desempregados com mais de 50 anos de idade não estão contabilizados nos centros de emprego onde é feito o senso. Os jovens que terminam os cursos não têm saídas profissionais. O Estado que, depois do Vinte e Cinco de Abril, tinha fortes funções sociais está a demitir-se, cada vez mais, delas, pois como sabemos quer transformar escolas e hospitais em empresas e disso é exemplo o aumento das taxas Moderadoras e o encerramento de escola; o financiamento das autarquias directamente pelos autarcas quando estes já alimentam cofres do Estado através dos impostos que são canalizados para o Orçamento Geral. Por todas estas razões cada vez mais se justifica a luta política, Não basta denunciar, é preciso agir. Todos temos obrigação de denunciar e de agir. A acção é que leva à transformação e onde há injustiça há um Comunista a denunciá-la, onde é preciso lutar, há um comunista a fazê-lo. A oposição, em Portugal, é feita, principalmente, pelo Partido Comunista Português, pela CDU.
 
Aqui nos Açores assumimos esta nossa vocação de oposição e apesar de não termos assento na Assembleia Legislativa Regional continuamos a denunciar e a agir em prol de um desenvolvimento harmónico para toda a Região. Temos desempenhado um papel fundamental que é reconhecido. Preciso é que esse reconhecimento seja traduzido em votos e que recuperemos os lugares que deixamos vagos na Assembleia. Não basta dizerem que fazemos lá falta, há que votar nas nossas listas. Oitenta e cinco anos de história de Portugal, oitenta e cinco anos de idade do Partido Comunista Português. "As gerações passam. O testemunho é transmitido. E o PCP continua comunista, a ser o Partido Comunista que é, e que queremos que continue a ser!" Viva o Partido Comunista Português, viva Portugal Abraços marienses
 
Rádio Asas do Atlântico, Lisboa, 13 de Março de 2006 Ana Loura