Em 1996 um novo ciclo se abre para os Açores, o PS chega ao poder, e o processo de privatização do BCA, iniciado pelo PSD, completa-se. Horácio Roque, à sombra da 4ª revisão constitucional que, com o apoio do PS, PSD e CDS, acabou com a obrigatoriedade de certos sectores económicos permanecerem em mãos públicas, toma posse de um instrumento estratégico para os Açores: a banca regional!
Agora, em fim de ciclo (também vital), o BANIF, livrando-se de muitos dos seus trabalhadores açorianos, tratou de deslocalizar para o Continente o que restava dos comandos do BCA e da sua Companhia de Seguros.
O PS parceiro de corpo inteiro do trio partidário responsável por este desarmamento financeiro da Região, derramando lágrimas de crocodilo, queixa-se agora que a Banca se comporta de forma avara, não estando a corresponder às necessidades de financiamento das empresas açorianas…
Em 1999 decretam-se as novas regras dos jogos de fortuna e azar, e em 2003 o poder regional concessiona por 30 anos o Casino de Ponta Delgada, com a sua abertura anunciada para os 3 anos seguintes. Duarte Ponte rejubilava: “O turismo é a maior indústria deste século!” Azar então para os Açores, neste jogo, direi eu. Nem o turismo, apesar dos continuados apoios financeiros de que usufruiu, atingiu dimensão económica significativa e estável, nem o Casino, apesar de ter consumido milhões e milhões de euros públicos, conseguiu abrir…Está para ali, qual nado-morto, o mamarracho!
São os reflexos (e as responsabilidades) de um ciclo em que a liberalização, e as privatizações, por um lado, e a aposta cega no turismo, por outro, foram sendo assumidas pelo poder regional como uma solução para os problemas económicos e sociais que faziam dos Açores, em 1996, apesar dos avanços possibilitados pelo sistema autonómico, uma Região atrasada perante o todo nacional: Salários em média mais baixos 10% que no Continente, milhares empurrados para o rendimento mínimo (num valor acima da média do país), custo de vida mais caro, e do mal, o menos, desemprego crescente, mas controlado, e um sector produtivo medianamente saudável.
Claro que a crise internacional ajudou, mas desenvolvendo-se anos fora, o ciclo de casino trouxe-nos o quê até 2010? Salários em média mais baixos 10% que no Continente, milhares continuando empurrados para o rendimento (agora) de inserção (num valor que se mantém superior à média nacional), custo de vida mais caro, desemprego crescente, mas agora descontrolado, e um sector produtivo debilitado.
E os economistas, ressuscitados políticos do ciclo anterior a 1996 (lembrando aqueles que se reuniram com Cavaco e Silva), que soluções nos trazem? Azar também: Voos low cost e privatização da SATA para resolver o problema do custo dos transportes; regresso à terra e à emigração, quanto ao resto…
Honra seja feita a Gualter Furtado (uma excepção): “Por mais produtivos que sejamos, a geografia e a dimensão regional são condições estruturantes, quase inultrapassáveis”. Desautorizam portanto a economia de casino, e obrigam à maior importância relativa do sector público e das transferências externas, para uma dinâmica sócio-económica regional equilibrada.
Neste sentido e a talhe de foice, veio-me agora à memória: E as passagens aéreas a menos de 100 euros, Sr. Presidente?
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado no jornal "Diário dos Açores" na sua edição do dia 3 de Junho de 2010