A vida singular e colectiva é construída, a cada passo, por escolhas.
As nossas opções determinam, se não totalmente pelo menos em grande
parte, o nosso futuro enquanto indivíduos. Ou seja, quando decidimos ir
“por ali” em vez de ir “por aqui” ou “por acolá” estamos a escolher o
que queremos para nós dali para a frente.
As opções, não obstante, terem um marcado carácter individual são fortemente condicionadas por factores de ordem externa que nem sempre controlamos. Assim, um acto de pura liberdade individual como é, por exemplo, aquisição de um produto em detrimento de outro, não deixando de ser uma decisão pessoal, é condicionada pela informação que nos é disponibilizada sobre o bem que queremos adquirir e a capacidade que temos, ou não, de confirmar a sua veracidade.
E a verdade é que a informação nem sempre corresponde à realidade. Há três anos os Estados Unidos decidiram invadir e ocupar o Iraque.
A decisão, sendo ilegítima à luz do direito internacional, recolhia, segundo os estudos de opinião da altura, o apoio da maioria do povo estado-unidense; apoio construído com base em informação que mais tarde se verificou ter sido forjada e não corresponder, de todo, à verdade. Os pressupostos da invasão e ocupação do Iraque foram arquitectados para recolher o apoio da opinião pública mundial e, desse modo, dar “legitimidade” à decisão que veio a ser confirmada, por Bush, Blair e Aznar e testemunhada por Durão Barroso, a 16 de Março de 2003, na base das Lages.
A manipulação da informação seja porque nos é parcialmente sonegada, seja porque tem associada juízos preconcebidos ou mesmo falsidades, como foi o caso a que anteriormente me referi, assume-se como um verdadeiro atentado à liberdade individual porque induz escolhas pessoais com base em falsos pressupostos.
A educação e a formação constituem-se como a única alternativa de luta contra o “terrorismo” informacional globalizado pelos “mass-media”. Ou seja, a elevação do nível cultural e do conhecimento, porque nos torna críticos e selectivos, é um factor determinante para que a liberdade individual seja plenamente vivida.
Talvez assim se entendam algumas das escolhas, em matéria de educação e qualificação das pessoas, de quem decide por nós, isto é, por quem nos governa e que mandatámos com uma opção pessoal: o nosso voto.
Apesar das confessadas paixões e dos discursos de circunstância (eleitoral) sobre a importância da qualificação académica e profissional dos recursos humanos a verdade é, e aqui não é o algodão são os números que não enganam, que a população activa portuguesa, do conjunto dos países da União Europeia, é a mais desqualificada, quer académica, quer profissionalmente.
O encaminhamento precoce para vias diferenciadas de ensino sejam elas profissionalizantes, de oportunidade ou de cidadania deixa à margem da escolaridade básica regular milhares de crianças e jovens e, em nada contribui para a inversão desta situação, apenas procura satisfazer indicadores estatísticos.
A aposta em formação profissional sem uma sólida base académica que lhe dê a necessária sustentação para os desafios de constante mudança e transformação do mercado de trabalho é, igualmente, uma aposta perdida.
A opção por modelos educativos que, tendencialmente, desvalorizam a Escola e discriminam o acesso e o sucesso educativo estarão, certamente, relacionados com o objectivo de perpetuar um nível educativo e cultural nas populações que condicione a liberdade individual e, consequentemente, as escolhas com que, singular e colectivamente, construímos o futuro.