Repatriações

anibal_pires.jpgAs notícias vindas a público sobre a repatriação de 15 mil portugueses que há alguns anos se encontram a viver e trabalhar no Canadá (na sua maioria de origem açoriana), ou outras que com alguma frequência nos dão conta da brutal exploração a que cidadãos portugueses são sujeitos, nomeadamente nos países da União Europeia o que não deixa de ser paradoxal, uma vez pertencemos por direito a essa formação social e económica, confirmam que Portugal nunca deixou de ser um país de emigrantes.

Os fluxos de saída são hoje substancialmente inferiores aos da década de 60 do século XX e, porventura procuram-se outros destinos, no entanto, as motivações para a saída e os dramas humanitários, esses subsistem com os mesmos contornos de sempre. O nosso país e a região vivenciam hoje uma dupla condição de acolhimento e de emissor de migrantes resultado do desenvolvimento económico verificado nas últimas décadas e que, por um lado atraiu centenas de milhares de cidadãos provenientes de várias partes do Mundo onde, por razões diversas, mas com a mesma matriz, as expectativas de viver com dignidade ficam a cada dia mais longínquas e, por outro lado levou a que cidadãos nacionais, aos quais as legítimas esperanças de aceder aos benefícios do desenvolvimento nacional foram goradas, procurem “fora de portas” aquilo que a sua pátria não lhes oferece. As assimetrias económicas que o modelo de desenvolvimento neoliberal tem vindo a aprofundar, quer ao nível interno, quer ao nível mundial estão na génese desta globalização das migrações. A necessidade travar o avanço deste modelo de desenvolvimento, que fomenta as desigualdades económicas e sociais e priva a maioria dos humanos de acederem a uma vida com dignidade, que o Direito Internacional e as Nações Unidas consagram, e de encontrar modelos de desenvolvimento sustentáveis e mais justos, económica e socialmente, é de uma premente actualidade.

Aníbal C. Pires, IN Açoriano Oriental, Ponta 7Delgada, 24 de Março de 2006