Para além de nos confirmar aquilo que alguns responsáveis governamentais continuam a iludir, isto é, a permanência de uma crise que cada vez mais se assemelha a uma forte e prolongada depressão, a análise dos números oficiais relativos ao 1º semestre de 2010 diz-nos, também, curiosamente que, em média por dia:
Foram 4 açorianos para o desemprego, 3 para o rendimento social de inserção (RSI) e 1 arranjou (ou voltou a arranjar) trabalho.
Comentário: Apesar do 4 a 4, não deixa de ser um “pequeno” desastre em curso…
Em relação ao ano anterior, a Região gastou num dia mais 420 euros com o rendimento social de inserção (RSI), totalizando agora 4.000 euros.
Comentário: É esta a quantia que desmotiva a procura de trabalho a 21.100 beneficiários, por quem ela é repartida, incluindo crianças, idosos e alguns que até já fazem uns biscates…
Com o RSI, o País distribuiu (num só dia) 118.600 euros por 156.936 famílias.
Comentário: É o descalabro do despesismo, também a nível nacional! A fiscalização a cada cêntimo gasto com estas famílias é imperativa! (Mesmo que com ela, e a burocracia envolvida, se gaste mais que com o próprio RSI…)
O BCP, o BPI e o BES, juntos, tiveram, num dia, 3 milhões de euros de lucro e, graças aos benefícios fiscais, pagarão sobre este lucro menos de 10% de IRC.
1ª Comentário: O desemprego aumenta, a produção diminui e a banca enriquece? Nada mais justo para obviar à grave crise de stress que assola o capital financeiro. Todos devemos ser solidários e, por isso, a riqueza que, por decisão governativa e por motivo da crise, o Estado e a Região deixaram de consumir, com os cortes sucessivamente decretados nas prestações sociais, não poderia destinar-se senão a uma urgente transfusão para a banca. É uma questão de vida ou de morte que todos obviamente compreendem...
2º Comentário: Apesar de usufruir de vantagens fiscais vultuosas, mesmo assim o IRC pago pela banca (que mais se assemelha a uma simbólica taxa social única) dá para pagar tanto o RSI, como o Fundo de Desemprego aos novos desempregados do dia…
Desta forma saldado o deve e o haver social, tudo estaria portanto sob controlo “sensato”, neste primeiro semestre do ano, não fora um caso aparentemente menos bem previsto pelo sistema que nos governa. Refiro-me àqueles que trabalham (por si, e agora também pelos colegas que entretanto saíram) mas tiveram de optar em casa por ficar sem TV cabo a fim de prover a alimentação (já que nem todas as mercearias podem fiar por muito tempo), pelo facto de não receberem salários há cinco meses e terem ainda por receber o subsídio de férias e de Natal de 2009...
A esses, o sistema responde: “Não se diz nada a ninguém, para defesa do bom nome e prestígio da firma!”
Para grandes males, grandes remédios. Brilhante!
Artigo de opinião de Mário Abrantes