A política sangrenta (também conhecida por guerra) está aí todos os dias, em diversos campos de intervenção espalhados pelo mundo. Nunca é demais lembrar ser a política que, invocando as circunstâncias, determina a guerra, e que esta por sua vez, da parte de quem a determina (chamando-a em geral boa) é sempre ofensiva e, para além da maior ou menor destruição que provoca, é criminosa porque mata sempre mais ou menos de forma indiscriminada, mais ou menos de forma massiva, humanos à ordem de humanos. Por isso a guerra, qual extensão sangrenta da política, é anti-humanista por natureza e deverá (terá) de ser abolida, como condição de segurança, e mesmo de sobrevivência, da humanidade.
Nunca mais Hiroshima e Nagazaki?
Em 6 de Agosto, passaram 65 anos, sobre a primeira (e única vez, até hoje) que a política sangrenta recorreu às armas atómicas para dizimar milhares de inocentes e respectivas descendências.
Mas hoje, mesmo sem a sua utilização, o caldo de cultura do armamento nuclear aí está, e continuam-se a contar de forma acelerada novas vítimas inocentes da política sangrenta, decretada em nome de causas, frequentemente anunciadas como boas. Há bem pouco tempo foram os milhares de civis e crianças de Gaza, e são agora os números revelados pela ONU das vítimas civis do Afeganistão, entre as quais 565 crianças. Aqueles que atacam, salvo uma ou outra excepção, provocam-nas sempre, mas não sofrem, em geral, vítimas inocentes. Após a primeira ofensiva, segue-se mais facilmente a segunda, porque vão atestando por essa via que, no seu interesse, a resolução dos conflitos se torna mais benéfica atacando, em lugar de se defenderem...
E, no desencadear da política sangrenta, tenha a etiqueta que tiver, deparamos hoje invariavelmente, enquanto seus agentes determinantes, com as potências de maior envergadura económico/militar e que mais armas atómicas possuem, podendo decidir usá-las, mesmo que travestidas de ataques “preventivos”, como já se provou…
Entretanto, perante o avolumar de tais ameaças, particularmente a mais recente, dos Estados Unidos e Israel, face ao Irão, duas respostas diferentes tivemos oportunidade de ouvir esta semana:
Ou, como alvitrou o auto-intitulado “optimista” astrofísico britânico Stephen Hawking: “Será difícil evitar uma catástrofe no planeta Terra nos próximos 100 anos. A raça humana terá de colonizar o espaço, se não quiser desaparecer…”
Ou, como, de forma menos “optimista” mas bem mais realista, alvitrou Fidel Castro, a partir da Assembleia Nacional de Cuba: “Obama! Não carregue no gatilho contra o Irão!”
Pela nossa parte, uma pergunta:
Vamos todos nós ser espectadores, afirmando como fizeram os bons alemães, ao tempo do III Reich, que “nós não sabíamos”?
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado no jornal "Diário dos Açores" na sua edição do dia 12 de Agosto de 2010