Comentar e desmontar o péssimo Orçamento de Estado que está proposto não é tarefa que se possa fazer numa coluna com esta dimensão, pelo que opto por vos chamar a atenção de alguns dos pressupostos e objectivos que determinam a sua apresentação.
Em primeiro lugar a União Europeia resolveu dar todo o poder aos tão proclamados “mercados financeiros”, exactamente depois da crise de 2007 ter demonstrado, em extensão, que a auto regulação dos mercados é um logro. Em segundo lugar e na sequencia do primeiro ponto, a União Europeia procura dar passos, cada vez mais fortes, no sentido de pôr em causa e anular muitas das conquistas civilizacionais e sociais do século XX, aumentando assim os desequilíbrios sociais, reforçando despudoradamente a exploração do trabalho e criando condições para que o grande capital financeiro possa ter uma rentabilidade ainda maior em todo o mundo e gerar acumulações nunca antes acontecidas. Em terceiro lugar e dentro desta linha, foi sendo enfraquecida a economia produtiva do nosso País, foi aumentando a dependência externa, foi crescendo o desemprego, foram sempre reforçados os privilégios da banca e da economia especulativa. Em quarto lugar, no nosso País como noutros da União Europeia, foi sendo construída uma “economia privada parasitária do Estado”, constituída por empresários apoiantes dos poderes constituídos, por gestores nomeados por confiança e por benesse, por gente que se especializou em arranjar formas fáceis de transferir para si próprios boa parte dos recursos escassos que são de todos.
A conjugação destes quatros pontos, desenvolvidos em Portugal pelo PS e pelo PSD ao longo dos anos, levou o País e a sua população que trabalha ou vive de reformas, à beira da falência. É urgente uma ruptura com esta situação.
José Decq Mota