Esta semana que estamos a viver é, para os Cristãos um período
paradigmático da respectiva Fé.
Celebra-se o sofrimento e a morte de Cristo. Evoca-se a injustiça que
se abateu sobre o Filho de Deus. Exalta-se a solidariedade dos Seus
discípulos. Lembra-se a monstruosidade que foi a traição de que foi
alvo.
A Via Sacra é o símbolo maior do sofrimento assumido ao serviço dos outros. Todos estes símbolos e evocações têm um enorme significado na nossa cultura cristã e têm, certamente, influência marcante na mente de todos os que fomos criados nos princípios do cristianismo. Sendo isto certo, infelizmente também é certo que tais princípios não têm influência determinante na evolução que o Mundo hoje está a ter. Vivemos num Mundo distorcido. A par de desmesuradas acumulações de riqueza, persiste a mais monstruosa das carências, fome e exploração. Para que uns tenham muito mais do que precisam, milhões vivem abaixo de todos os padrões mínimos. Como é possível que tenhamos sido educados tendo como referência princípios de partilha, de solidariedade, de sofrimento pela libertação dos outros e vivamos, metidos até ao pescoço, na exaltação da exploração, do individualismo, da injustiça? Projectamos os bons princípios em que fomos educados para “outro Mundo”? Aplicamos, neste Mundo, o contrário do que aprendemos? Espero que nesta Semana Santa aproveitemos para reflectir com seriedade.
José Decq Mota em Crónicas D’Aquém no Açoriano Oriental em 13/04/2006
