Não fazem hoje qualquer sentido aquelas ideias, ditas de desenvolvimento, que por vezes ainda dão suporte a decisões que atingem, limitam ou diminuem, directamente, a qualidade de vida das populações. Qualquer processo de desenvolvimento, para ser autêntico e útil, tem que ser sustentado por investimento necessário, inteligente e bem programado, tem que respeitar e valorizar o património natural e cultural e tem que ter, sempre, como objectivo central, a melhoria, em sentido amplo, das condições de vida das populações.
A pequena reflexão que deixo acima tem estado, obrigatoriamente, presente sempre que analiso aspectos da realidade regional açoriana porque, infelizmente, são ainda muitos os casos de investimento pouco inteligente, desnecessário, contrário à preservação ambiental, desrespeitador da herança cultural essencial e despreocupado em relação às condições de vida das populações.
Na minha opinião, o anunciado cais de cruzeiros para a baia de Angra do Heroísmo enquadra-se claramente nestes casos, uma vez que é um investimento desnecessário, pois a ilha Terceira está já excelentemente equipada com o porto da Praia da Vitória, é pouco inteligente pois absorve enormes recursos sem necessidade, desrespeita a herança cultural interessantíssima da baia de Angra e, desviando recursos para um objectivo desnecessário, penaliza as populações de forma muito séria.
Casos como estes têm que ser sempre combatidos, pois a utilização dos recursos públicos não podem estar dependentes de visões estreitas, localizadas e motivadas por raciocínios claramente distorcidos.
O investimento privado que é feito terá que obedecer também a critérios de respeito pela qualidade de vida das comunidades.
Penso que temos que ter consciência clara de que o nosso processo de desenvolvimento só se potencia, com sustentabilidade e segurança, se formos capazes de perceber que o imediatismo e o eleitoralismo são inimigos claros desse objectivo.
As nossas potencialidades são enormes. Todas as ilhas têm um rico património natural e um rico património cultural. A diversidade desse património, muito individualizado ilha por ilha, dá uma grande dimensão qualitativa ao conjunto constituído pelas nove ilhas. Em todas as ilhas pode e deve haver processos de desenvolvimento concebidos com princípios justos e adequados, mas para isso ser viável tem que se resistir à tentação fácil de concentrar investimentos para satisfazer interesses de vário tipo.
As ilhas mais próximas umas das outras, como são S. Jorge, Pico e Faial, só ganham se tiverem capacidade de reflectir e pensar estes problemas do desenvolvimento, em todas as áreas, numa perspectiva de complementaridade.
Defendo que o progresso tem que ser efectivo e tem que se reflectir na qualidade de vida das comunidades, mas também defendo que o “progresso” não pode cilindrar a vida das pessoas. A este respeito e como exemplo do que quero dizer, penso que o turismo é um sector económico muito importante, por aquilo que pode gerar, mas também penso que estar economicamente dele dependente em exclusivo, seria um gravíssimo erro que desde logo se abateria sobre a qualidade de vida das populações. É bom também não esquecer que a promoção do turismo nesta Região terá que continuar a assentar, clara e seguramente, na oferta genuína de todas as nossas qualidades naturais e ambientais e do nosso património cultural. A manutenção e reforço das economias produtivas, aproveitando de forma sustentada e equilibrada, as nossas potencialidades no mar e em terra, continua a ser, na minha opinião, uma orientação essencial. Mas para que essa orientação não seja só mera conversa, tem que se trabalhar para que a exploração do mar seja de facto sustentada e que o nosso mar deixe de ser rapinado e tem que se trabalhar para que a indispensável exploração da terra seja feita com os equilíbrios e a extensividade que são desejáveis. Tem também que se trabalhar para que as actividades de transformação, para as quais temos múltiplas aptidões, não sejam, como têm sido nalguns casos, paulatinamente enfraquecidas ou destruídas.
Não basta só falar de desenvolvimento e juntar a essas palavras as vultuosas cifras que são sempre anunciadas. Nem tudo o que se gasta, quer em termos públicos, quer em termos privados, é integrável num processo normal, equilibrado e aceitável de desenvolvimento. Vou mesmo mais longe ao afirmar que algumas medidas e investimentos contrariam de forma forte esse almejado desenvolvimento harmónico que a grande maioria dos açorianos deseja.
Tudo isto precisa de ser reequilibrado ou revisto.
Horta, 16 de Fevereiro 2011
José Decq Mota
Na minha opinião, o anunciado cais de cruzeiros para a baia de Angra do Heroísmo enquadra-se claramente nestes casos, uma vez que é um investimento desnecessário, pois a ilha Terceira está já excelentemente equipada com o porto da Praia da Vitória, é pouco inteligente pois absorve enormes recursos sem necessidade, desrespeita a herança cultural interessantíssima da baia de Angra e, desviando recursos para um objectivo desnecessário, penaliza as populações de forma muito séria.
Casos como estes têm que ser sempre combatidos, pois a utilização dos recursos públicos não podem estar dependentes de visões estreitas, localizadas e motivadas por raciocínios claramente distorcidos.
O investimento privado que é feito terá que obedecer também a critérios de respeito pela qualidade de vida das comunidades.
Penso que temos que ter consciência clara de que o nosso processo de desenvolvimento só se potencia, com sustentabilidade e segurança, se formos capazes de perceber que o imediatismo e o eleitoralismo são inimigos claros desse objectivo.
As nossas potencialidades são enormes. Todas as ilhas têm um rico património natural e um rico património cultural. A diversidade desse património, muito individualizado ilha por ilha, dá uma grande dimensão qualitativa ao conjunto constituído pelas nove ilhas. Em todas as ilhas pode e deve haver processos de desenvolvimento concebidos com princípios justos e adequados, mas para isso ser viável tem que se resistir à tentação fácil de concentrar investimentos para satisfazer interesses de vário tipo.
As ilhas mais próximas umas das outras, como são S. Jorge, Pico e Faial, só ganham se tiverem capacidade de reflectir e pensar estes problemas do desenvolvimento, em todas as áreas, numa perspectiva de complementaridade.
Defendo que o progresso tem que ser efectivo e tem que se reflectir na qualidade de vida das comunidades, mas também defendo que o “progresso” não pode cilindrar a vida das pessoas. A este respeito e como exemplo do que quero dizer, penso que o turismo é um sector económico muito importante, por aquilo que pode gerar, mas também penso que estar economicamente dele dependente em exclusivo, seria um gravíssimo erro que desde logo se abateria sobre a qualidade de vida das populações. É bom também não esquecer que a promoção do turismo nesta Região terá que continuar a assentar, clara e seguramente, na oferta genuína de todas as nossas qualidades naturais e ambientais e do nosso património cultural. A manutenção e reforço das economias produtivas, aproveitando de forma sustentada e equilibrada, as nossas potencialidades no mar e em terra, continua a ser, na minha opinião, uma orientação essencial. Mas para que essa orientação não seja só mera conversa, tem que se trabalhar para que a exploração do mar seja de facto sustentada e que o nosso mar deixe de ser rapinado e tem que se trabalhar para que a indispensável exploração da terra seja feita com os equilíbrios e a extensividade que são desejáveis. Tem também que se trabalhar para que as actividades de transformação, para as quais temos múltiplas aptidões, não sejam, como têm sido nalguns casos, paulatinamente enfraquecidas ou destruídas.
Não basta só falar de desenvolvimento e juntar a essas palavras as vultuosas cifras que são sempre anunciadas. Nem tudo o que se gasta, quer em termos públicos, quer em termos privados, é integrável num processo normal, equilibrado e aceitável de desenvolvimento. Vou mesmo mais longe ao afirmar que algumas medidas e investimentos contrariam de forma forte esse almejado desenvolvimento harmónico que a grande maioria dos açorianos deseja.
Tudo isto precisa de ser reequilibrado ou revisto.
Horta, 16 de Fevereiro 2011
José Decq Mota