Deixando no Terreiro do Paço, apadrinhados por si, uma ditadura de mercados e um governo (de “canalhas”, como foi classificado por Samuel, um cançonetista e um pensador português da actualidade) com ordem para escavacar tudo o que é Estado (incluindo as Autonomias Constitucionais) sem deixar nada no lugar daquilo que existia, em nome de uma abençoada e impagável dívida, veio candidamente de visita às ilhas mais pequenas dos Açores o Sr. Presidente da República, segundo ele para “dar uma ajuda ao reforço da coesão nacional”.
Oxalá me enganasse, e que ao fim dos cinco dias protocolares pudéssemos ouvir da boca do Sr. Presidente da República verdadeiros e elementares contributos para o reforço da coesão regional e nacional, como sejam:
- A referência à importância da RTP/Açores e à necessária melhoria da eficácia do seu papel, enquanto serviço público descentralizado da responsabilidade do Estado, para a afirmação da identidade açoriana no contexto nacional;
- A referência à bondade e aplicabilidade integral da Lei de Finanças Regionais como instrumento fundamental de salvaguarda da coesão económica nacional no contexto de uma região ultraperiférica, distante e espartilhada fisicamente por nove ilhas;
- A referência ao exagerado e discriminatório custo das passagens aéreas de e para os Açores que afectam negativamente, quando não bloqueiam mesmo, a economia e o desenvolvimento integrado destas ilhas;
- A referência, como questão não só regional mas nacional relevante, à necessidade de medidas políticas concretas para inverter a sistémica e desastrosa tendência de desertificação e decréscimo de actividade que se verificam nas ilhas que agora visita.
Ouviremos?
O estimado leitor que me perdoe o cepticismo, mas creio que não!
Entretanto César ganha com esta visita um aliado na oportunidade de deixar para trás das costas, pelo menos por agora, o exponencialmente grave aumento do desemprego verificado em contínuo na Região; o número recorde (50 mil) de açorianos a ter de viver com pouco mais de 400 euros por mês; as escolas a fechar e os serviços de saúde a minguar.
E sobretudo um aliado para a proposta de um compromisso que a ponta do véu levantada por Sérgio Ávila deixa no entanto ainda (negativamente) encoberto: As orientações de controlo orçamental previstas no memorando de entendimento que o Governo Regional pretende acertar com a República e que os açorianos têm todo o direito de conhecer na sua plenitude...
Artigo de opinião de Mário Abrantes