À sombra inquietante de um Terreiro do Paço que alastra para os Açores e a Madeira, utilizando agora o pretexto do buraco Jardinista (esquecido que foi o anterior, mais nebuloso e nunca esclarecido, descoberto por Passos Coelho), prepara-se para ser descarregado sobre os portugueses, pelo PSD e pelo CDS, um novo pacote de sacrifícios e injustiças embrulhado na proposta de Orçamento para 2012. Dito “além da troika” e que vai “revolucionar” o país, este Orçamento visa em particular e desde já, de acordo com o anunciado pelo primeiro-ministro, um grande ataque à saúde e à segurança social públicas…
Entretanto Seguro, como bom oposicionista que se tem vindo a afirmar, já garantiu que a probabilidade de votar contra aquele Orçamento era de 0,001%, ou seja, para um tal desiderato o governo pode estar seguro que o PS estará 99,999 % ao seu lado!
Manuela Ferreira Leite à parte, escusado será dizer que, com uma “unanimidade” destas à volta das políticas restritivas e de austeridade, as quais, sem um pingo de vergonha, o ministro Relvas afirma terem sido o caminho “temerário” escolhido pelos portugueses, resta aos seguidores dos partidos da coligação governamental nas ilhas atlânticas entrarem pelo desvario das incongruências, sejam elas pós-eleitorais na Madeira ou eleitoralistas nos Açores.Jardim, abeirando-se dum declínio irreversível esqueceu-se das antes sempre invocadas penalizações da insularidade e acaba por dizer afinal que quer austeridade igual para todos em Portugal…
O seu conterrâneo do CDS lembrou-se agora de dizer aquilo de que se esqueceu em campanha: “A autonomia está hipotecada”! Portanto os eleitores que em número significativo foram atraídos pelo voto na sua pessoa não têm mais que fazer, no dia seguinte, senão resignar-se à orfandade com a sua renúncia ao mandato no Parlamento Regional…porque como deputado em Lisboa se está bem melhor!
Por cá, e apesar de reagir com algum desdém ao anúncio de César, que ética à parte também se afasta porque o Seguro ainda não morreu de velho (o tal que anunciou estar 99,999% ao lado da coligação governamental), a líder do PSD sempre arrebitou qualquer coisinha: “Não basta mudar de caras, é preciso mudar de pessoas… e de políticas!”. Escapou-lhe num momento que “caras” e “pessoas” significam pouco mais ou menos o mesmo e lá se lembrou (depois) das políticas...
Estamos de acordo, e muitos outros também, com a necessidade da mudança de políticas, para além das pessoas, mas alardeando a mudança de políticas também se pode enganar…as pessoas! E se, taxas moderadoras à parte (o que está, está, não é verdade?), é do acesso de todos à saúde e de um médico de família para toda a gente que carece o nosso sistema, como diz a responsável do PSD e é verdade, ninguém consegue, por mais que se esfalfe, compaginar tais objectivos com as mudanças “revolucionárias” no sector a que se propõem o seu partido e o CDS!!
E se é de criar mais emprego que se trata, como igualmente afirma de consciência leve a pessoa em causa, no mínimo seria interessante ouvir da sua boca (e, que eu desse por isso, não ouvi até à data em que redigi este artigo) alguma coisa sobre a decisão do governo da República de cativar 800 mil euros destinados às Casas do Povo dos Açores, para pagar salários a quase duas centenas de trabalhadores…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, em 12 de outubro de 2011