3 x 3
Por não nos termos ainda apercebido plenamente do sentido das coisas, resvalamos rapidamente para um preocupante cenário político de autoritarismo autista e amoral cujo livre desenrolar conduzirá inevitavelmente à criação de condições para uma dolorosa rotura social no país. E digo dolorosa porque incapaz de ser assimilada e resolvida pelas instituições democráticas vigentes.
Premonitório de uma tal situação, foi o ensaio experimental a que todo o país assistiu, no Congresso da ANAFRE, onde se viu um ministro (Miguel Relvas) fazendo-se surdo à manifestação generalizada dos autarcas contra a reforma da administração local que o seu governo pretende levar por diante, mas insistindo em usar a palavra “diálogo” (sem sentido algum, face aos protestos) para dizer que a reforma…teria de ser aplicada de qualquer modo!
Num país já antes golpeado em profundidade pelo governo socialista de Sócrates, nos meses que se seguiram à tomada de posse do novo governo de Passos Coelho e Paulo Portas, de positivo foi apenas possível registar 3 acontecimentos: a elevação do Fado a património imaterial da humanidade, o apuramento da selecção para o Campeonato Europeu de Futebol e o afortunado salvamento dos pescadores náufragos de Caxinas.
De resto, a mentira sistemática consolidou-se, a incompetência e subserviência políticas passaram a atitude patriótica, a pobreza virou honra, o aumento do desemprego e das falências, normalidade, a caridade transformou-se em função social do Estado, a emigração para o Brasil foi retomada, e a desigualdade social atingiu o topo de entre os países da OCDE…Em tão pouco tempo, é difícil fazer mais!
Que o Fado nos honra, sem dúvida. Mas o fado do choradinho é outra coisa, e este até já o canta a ministra italiana do trabalho que, de desgostosa, não conseguiu reter as lágrimas na hora que o destino lhe marcou para anunciar aumentos à idade da reforma. Bom, agora já não dizem que o destino está traçado, chamam-lhe antes inevitabilidades, e não se faz outra coisa em Portugal, de há uns meses a esta parte, que não seja, tal como a governante italiana, lamentar e verter lágrimas de crocodilo por se ter de forçar os governados a tantos sacrifícios, a tanta pobreza, e até de novo à emigração…
Que o Futebol é um desporto de massas e empolga multidões, está à vista. Mas o futebol que aliena as pessoas dos seus reais problemas, quando estes se agravam, constitui uma arma política sempre disponível e, diga-se de passagem, nada desprezível…
Que a boa sorte sorriu aos pescadores de Caxinas, é um facto. Mas que, eivada de obscurantismo, a exploração religiosa dum milagre de Natal se insinuou por detrás do acontecimento, artificialmente ampliada pela comunicação social, isso não escapou aos mais atentos…
Portanto, até mesmo nos 3 acontecimentos positivos que foi possível registar em Portugal durante os meses que nos separam da tomada de posse do governo de Passos Coelho e Paulo Portas, se torna difícil não descortinar, pelo caminho que se está trilhando, pontos de contacto inquietantes com a política dos 3 FFF (Fado, Futebol e Fátima) uma das expressões da natureza do regime salazarista.
Só que os tempos são outros, e Salazar já era. O autoritarismo autista e amoral quanto menos tempo durar, menos dolorosas consequências terá, mas seguramente não será, à semelhança do anterior, sustentável em Portugal por tempo indeterminado, ainda que não “orgulhosamente só”, como em outros tempos, mas antes orgulhosamente acompanhado da cumplicidade de uma Merkel, de um Sarkosy ou de uma troika por ambos mandatada..
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 7 de dezembro de 2011
Por não nos termos ainda apercebido plenamente do sentido das coisas, resvalamos rapidamente para um preocupante cenário político de autoritarismo autista e amoral cujo livre desenrolar conduzirá inevitavelmente à criação de condições para uma dolorosa rotura social no país. E digo dolorosa porque incapaz de ser assimilada e resolvida pelas instituições democráticas vigentes.
Premonitório de uma tal situação, foi o ensaio experimental a que todo o país assistiu, no Congresso da ANAFRE, onde se viu um ministro (Miguel Relvas) fazendo-se surdo à manifestação generalizada dos autarcas contra a reforma da administração local que o seu governo pretende levar por diante, mas insistindo em usar a palavra “diálogo” (sem sentido algum, face aos protestos) para dizer que a reforma…teria de ser aplicada de qualquer modo!
Num país já antes golpeado em profundidade pelo governo socialista de Sócrates, nos meses que se seguiram à tomada de posse do novo governo de Passos Coelho e Paulo Portas, de positivo foi apenas possível registar 3 acontecimentos: a elevação do Fado a património imaterial da humanidade, o apuramento da selecção para o Campeonato Europeu de Futebol e o afortunado salvamento dos pescadores náufragos de Caxinas.
De resto, a mentira sistemática consolidou-se, a incompetência e subserviência políticas passaram a atitude patriótica, a pobreza virou honra, o aumento do desemprego e das falências, normalidade, a caridade transformou-se em função social do Estado, a emigração para o Brasil foi retomada, e a desigualdade social atingiu o topo de entre os países da OCDE…Em tão pouco tempo, é difícil fazer mais!
Que o Fado nos honra, sem dúvida. Mas o fado do choradinho é outra coisa, e este até já o canta a ministra italiana do trabalho que, de desgostosa, não conseguiu reter as lágrimas na hora que o destino lhe marcou para anunciar aumentos à idade da reforma. Bom, agora já não dizem que o destino está traçado, chamam-lhe antes inevitabilidades, e não se faz outra coisa em Portugal, de há uns meses a esta parte, que não seja, tal como a governante italiana, lamentar e verter lágrimas de crocodilo por se ter de forçar os governados a tantos sacrifícios, a tanta pobreza, e até de novo à emigração…
Que o Futebol é um desporto de massas e empolga multidões, está à vista. Mas o futebol que aliena as pessoas dos seus reais problemas, quando estes se agravam, constitui uma arma política sempre disponível e, diga-se de passagem, nada desprezível…
Que a boa sorte sorriu aos pescadores de Caxinas, é um facto. Mas que, eivada de obscurantismo, a exploração religiosa dum milagre de Natal se insinuou por detrás do acontecimento, artificialmente ampliada pela comunicação social, isso não escapou aos mais atentos…
Portanto, até mesmo nos 3 acontecimentos positivos que foi possível registar em Portugal durante os meses que nos separam da tomada de posse do governo de Passos Coelho e Paulo Portas, se torna difícil não descortinar, pelo caminho que se está trilhando, pontos de contacto inquietantes com a política dos 3 FFF (Fado, Futebol e Fátima) uma das expressões da natureza do regime salazarista.
Só que os tempos são outros, e Salazar já era. O autoritarismo autista e amoral quanto menos tempo durar, menos dolorosas consequências terá, mas seguramente não será, à semelhança do anterior, sustentável em Portugal por tempo indeterminado, ainda que não “orgulhosamente só”, como em outros tempos, mas antes orgulhosamente acompanhado da cumplicidade de uma Merkel, de um Sarkosy ou de uma troika por ambos mandatada...
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 7 de dezembro de 2011