Começarei por dizer que me “soa” muito mal constatar que o actual Inspector Regional para as Actividades Económicas (a AZAE cá do burgo) foi nomeado para o cargo sem o consenso da Associação de Consumidores dos Açores (ACRA).
Folheando a edição de Dezembro de 2011 do Boletim Informativo da ACRA, verifiquei só agora (eu pecador me confesso…) que em Julho do ano transacto foi nomeado pelo Governo Regional um novo IRAE e que tal nomeação não recolheu opinião favorável da ACRA.
Mas, acentuando alguma preocupação anterior, verifiquei mais. Verifiquei que o novo Inspector (que diga-se desde logo não conheço pessoalmente) incluía no seu já recheado currículo de gestor de empresas o cargo de director financeiro do Grupo Marques, proprietário de uma das duas grandes superfícies comerciais de Ponta Delgada. E de imediato me solidarizei integralmente com as reservas levantadas pela ACRA à sua nomeação.
Para já, em meu entender, um gestor de empresas não será em parte nenhuma de uma Região que vive segundo regras capitalistas (as quais, para o nosso descontentamento, estão de momento acentuando o seu cariz selvagem em todo o país) o provedor mais isento e eficaz daquelas outras regras que são de interesse predominante para os consumidores. Se, acrescentando a esse handicap, somarmos a sua ex-qualidade de gestor financeiro dum grupo regional monopolista da distribuição comercial e grande empreiteiro da indústria de construção, que certamente até deixou lastro de contencioso com a IRAE que antes ele próprio administrou, de um lado, e que, pela sua nova competência funcional, herdará agora para tratamento, de outro, diríamos, sem com isto pretender pôr em causa a honra e a seriedade do nomeado, que esta escolha é no mínimo intrigante, passível de interpretações capciosas e, já agora, muito pouco reconfortante para os pequenos e médios empresários…
Direi em seguida que estranhei muito a vontade expressa da presidente do PSD/Açores de não abandonar a presidência da Câmara de Ponta Delgada para se dedicar em exclusivo à “presidência” da campanha eleitoral do PSD, porque, como disse: “as duas agendas são conciliáveis”.
Mas então será apenas montagem virtual dos órgãos da comunicação social, ou efectivamente a presidente do PSD anda, pelo menos desde há dois meses, num rodopio imparável por toda a Região em acções de uma campanha cujo acto eleitoral ainda nem data marcada tem? Bem sei que um presidente de câmara tem horário livre, mas tal liberdade foi, por princípio, estabelecida pelas necessidades de um cargo que, para ser exercido em plenitude, implica o dispêndio de mais horas, e não menos, do que um horário normal de trabalho.
E, como não é suposto a presidente de Câmara ter o dom da ubiquidade ou andar em actividade municipal pelos outros concelhos e ilhas, então, o abono de horas da campanha eleitoral não oficial em curso estará certamente a ser feito à custa do desabono das horas devidas ao município. Além disso, que se saiba, essas horas não estarão a ser descontadas do salário que aufere como autarca (e, se estiverem, cá estarei para dar a mão à palmatória…).
Seriam então, em versão mais desenvolvida, estas as regras laborais recentemente acordadas pelo PSD, e o seu parceiro CDS, com a UGT: deixar de pagar aos outros as horas de trabalho a mais, mas continuar, para si, a receber as horas de trabalho a menos…Brilhante!
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 1 de fevereiro de 2012