“Que se lixem as eleições…”, diz Passos Coelho, o que, na interpretação de Arménio Carlos da CGTP-In, quereria antes dizer: “Que se lixem os portugueses…”!
Penso que lixando-se umas, não se lixam os outros, e seria portanto ótimo que, para os partidos do governo de Passos Coelho, desde logo se lixassem as eleições regionais de Outubro, o que por si só faria respirar de alívio os portugueses em geral e, em particular, os açorianos, hoje duplamente vítimas das suas políticas restritivas, recessivas, anti-autonomistas e cada vez mais sem sentido nem saída.
Não vale a pena defender-se o abaixamento do custo dos transportes aéreos de e para o Continente, em nome do legítimo interesse público subjacente ao direito à mobilidade (confrontado com a ausência de alternativas para os açorianos e para quem pretenda visitar os Açores) e ao mesmo tempo preparar a privatização da TAP e liberalizar os transportes aéreos nas rotas hoje obrigadas a contratos de serviço público. Tais desígnios são incompatíveis. Quando a mesma força política, candidata às eleições regionais, se propõe alcançar os dois, é certo que um deles vai falhar. O eleitor que ajuíze da seriedade de quem assim joga com a sua inteligência e qual o elo que vai quebrar…
Não vale a pena defender-se o interesse público, económico e estratégico para os Açores das infraestruturas aeroportuárias atualmente geridas pela ANA – Aeroportos de Portugal, em 4 aeroportos da Região, e simultaneamente propor-se privatizar a empresa e colocá-la à mercê das flutuações de mercado e das agendas de um qualquer grupo privado. O eleitor que ajuíze da seriedade de quem mais uma vez assim joga com a sua inteligência e qual dos dois desígnios vai abortar…
Não vale a pena defender o direito à saúde e a um médico de família por cada açoriano, o fim das listas de espera e a melhoria da rede de cuidados primários e especializados, e simultaneamente proclamar a necessidade de uma redução drástica dos equipamentos e das despesas com o setor, bem como o encerramento de unidades e serviços de saúde. O eleitor que ajuíze...
Não vale a pena manifestar o desejo de governar com sentido estratégico para a criação de riqueza e de emprego e ao mesmo tempo adotar sucessivas medidas políticas responsáveis pelo desencadeamento de um ciclo imparável de recessão, desemprego e pobreza. O eleitor que ajuíze…
Não vale a pena afirmar que nos Açores a lei de extinção das freguesias não se aplica, por ser inconstitucional e porque as especificidades próprias deste arquipélago disperso e distante não justificam modificações ao atual mapa autárquico, e ao mesmo tempo afirmar em declaração de voto apensa a tais intenções que as obrigações de Portugal para com a troika implicam, por lei própria, a extinção de freguesias nos Açores...
Não vale a pena recordar que o descrédito da (de certa) política e das (de certas) forças políticas advém da facilidade e da falta de escrúpulos com que sucessivamente nos últimos anos têm vindo a “enrolar” o eleitor antes das eleições, para, logo depois do ato eleitoral e no exercício do poder, o trair nas suas espectativas, em toda a linha…
Em Outubro, com a lucidez do nosso voto, podemos dar a esta gente aquilo que ela merece: Lixar-lhe as eleições!
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 26 de julho de 2012