Informação pública “ajanelada”

mario_abrantesEmbora não se apresentando como candidato, mas, em termos de televisão pública “ajanelada” (refiro-me àquela que veio para o lugar donde foi expulsa a antiga RTP/Açores), quase tão mediaticamente coberto quanto aqueles que assim se apresentam, Mário Fortuna não se poupa em apontar soluções que diz serem para os Açores, sem que, igualmente com cobertura mediática assegurada pela mesma “ajanelada” televisão pública, logo a primeira candidata do PSD não venha de imediato dizer que pensa precisamente da mesma maneira... Coincidências?


Sempre condenei o abuso de aproveitamento por parte dos governos regionais, tanto do PSD como do PS, no respeitante à informação produzida pela ex-RTP/Açores e pela RDP/Açores, em tempo de pré-campanha eleitoral para o parlamento regional. De facto, tanto os sucessivos governos de Mota Amaral, como os sucessivos governos de Carlos César não resistiram nunca, em atos política e eticamente condenáveis (já que estamos aqui a falar de órgãos vinculados por dinheiros públicos a uma informação isenta e plural), a utilizar a influência da Região sobre as estações públicas regionais de rádio e televisão, com vista a daí retirarem ilegítimos benefícios partidários/eleitorais.


Mas com a “ajanelada” televisão que veio usurpar o lugar da administrativamente extinta RTP/Açores, levando a RDP/Açores de rasto, as coisas piam mais fino. Respeitando-se é certo (embora, mesmo assim, nem sempre) o pluralismo mínimo que dá voz às restantes forças políticas e sociais em presença, é agora a “voz do dono”, não no governo da Região, mas substituída pela do governo no Terreiro do Paço, aquela que se ouve sempre mais alto que todas as outras, aquela que regula em primeiro lugar o alinhamento da informação pública produzida nos Açores. Desmentindo perentoriamente o despeito populista com que Passos Coelho escamoteou recentemente a importância das eleições, o seu Governo resolveu não deixar créditos por mãos alheias e, em relação às eleições regionais, procedeu célere de forma centralista e despudorada à transformação da informação pública de televisão e rádio para os Açores em emissões de propaganda e de alinhamento informativo de agenda com o PSD. Chegou-se ao ponto de, como aconteceu no noticiário regional de 27 de Julho passado, se assistir a uma autêntica emissão de partido único: Começou com a deputada Patrão Neves enrolada nos vitelos para abate, passou pela visita da (futura) deputada Berta Cabral à Disrego, e, após mais uma notícia de carater político sobre a candidatura do ex-administrador Cansado, derivou de vez para o noticiário recreativo e desportivo…É obra de que só me recordo nos tempos da outra senhora !!!!


Voltando ao princípio e ao que disse Mário Fortuna, com o aplauso público imediato do PSD nos Açores. Tão simplesmente o Sr. Professor veio dizer que os Açores deverão rapidamente mudar de políticas e “acompanhar o ajustamento que está a ser feito a nível nacional”, ou seja, também neste caso se faz ouvir a voz do dono pretendendo impor em toda a extensão aos Açores aquilo que se está a fazer no Continente em matéria de política anti-social, de recessão, de austeridade, de cortes criminosos na saúde e segurança social, na educação, nas pensões, nos direitos e nos rendimentos do trabalho.


Não nos bastava já a voluntariosa participação, paralela à da república, do atual governo regional, subscrevendo medidas de austeridade, fechando escolas e atendimentos da segurança social ou centros de saúde, instituindo taxas moderadoras e aplicando cortes aos 13º e 14º meses na Administração Regional ou cortes nos RSI, para virem agora uns “ajanelados”, falando em “mudança”, pretender aplicar a 100% aos Açores, já de si debilitados pela insularidade e pela pulverização de mercados, as regras da austeridade e da recessão que, para desgraça nacional, têm norteado as obsessivas políticas do governo de Passos Coelho...

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 2 de agosto de 2012