Paulo Portas julgou-se capaz de matar dois coelhos de uma cajadada: “Submergir” da polémica dos submarinos, escolhendo férias nos Açores, e dar um arzinho (dará?) à complicada tarefa da filial regional do CDS para se aguentar sem “submergir” eleitoralmente em Outubro próximo…
Por mais ginástica verborreica que exiba, no entanto o que são factos não deixam por isso de o ser, e o que “emerge” é apenas a falta de vergonha de quem se acha capaz de fingir que não veio mendigar votos aos açorianos em nome da sustentabilidade da (incompetente e socialmente insensível) coligação que tomou conta do poder em Portugal.
Sobre as quotas leiteiras, lamenta-se agora nos Açores (precisamente agora…) que o seu partido tenha apoiado o fim das ditas até 2015 em Bruxelas, e omite que elas já estão a ser liquidadas paulatinamente com os aumentos anuais consecutivos de 1% da quota de cada país, gerando excedentes de leite que como todos sabemos já chegaram ao preço da chuva até aos Açores, com a anuência do CDS, quando não se opôs (tal como o PSD e o PS) a esta decisão dos conselhos de ministros da União Europeia, em 17 de Março e 18 de Dezembro de 2008. Terá ficado com problemas de memória por gostar tanto (como diz agora…) do queijo dos Açores?
E de que mudança para os Açores estará Paulo Portas a falar, quando diz que o CDS será o único capaz de a protagonizar, se simultaneamente o seu líder regional afiliado diz que na Região fará alianças com qualquer um. É que, caso se refira ao PS, as mudanças serão certamente poucas, mas se for ao PSD ninguém vê o que de útil para os açorianos poderá mudar a partir da reedição, em segunda via regional, da coligação governativa que tem afundado o país e de cuja política dita de “reformas estruturais” a líder regional afiliada de Passos Coelho, apesar das contraditórias promessas com que quotidianamente procura manter-se à tona, se diz tão apologista…
Diria portanto que (ou borrifando-se mais uma vez para as eleições, ou delirando com a sua reeleição, como insinuou no Algarve) Passos Coelho enviou um submarino às ilhas em missão de propagação da fé em que só com o lastro das políticas de recessão, de desemprego e de austeridade é que será possível conduzir o País e, por arrasto, a Região à salvação!
E não estou a carregar as tintas, caro Leitor, precisamente no mesmo dia em que o 1º Ministro português ao serviço da troika foi, entre buzinões de protesto dos automobilistas algarvios, para o chamado comício de “rentrée” política em Quarteira dizer que 2013 será o ano de inversão da recessão, foram divulgados pelo INE dados estatísticos que comprovam afinal o aprofundamento daquela, as quebras sucessivas e acumuladas do produto interno, o aumento assustador do desemprego e a redução brutal da procura interna que nenhum aumento de exportações consegue equilibrar e que nenhuma política de austeridade e de controlo prioritário do défice consegue inverter.
Submersos em salas fechadas e acossados por (legítimos e cada vez mais frequentes) protestos à porta, com a segurança policial e particular cada vez mais reforçada em seu redor, distanciando-se da realidade e do povo, os coligados na República entram definitivamente na embriaguez das profundezas e…“ambicionam ser reeleitos”!
Mas para assim acontecer, não bastaria mendigá-los como parece que Portas veio aos Açores fazer, iria ser necessário comprar muitos mais votos, enganar muito mais gente, ou mesmo “submergir” as liberdades constitucionais e promover fantochadas eleitorais, como fez a ditadura salazarista…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 16 de agosto de 2012