Durante 4 anos (até 1944), substituindo a anterior declaração de guerra à Alemanha, vigorou em França o chamado acordo de Vichy, assinado pelo general Pétain com os nazis, que estabeleceu um governo (francês) chefiado pelo próprio e que consagrava a ocupação do país pela Alemanha (administrando esta diretamente 3 quintos do território e supervisionando o governo francês nos outros 2 quintos). Entre outras matérias acordadas, os franceses ficavam comprometidos a pagar os custos de ocupação às tropas alemãs, o Reichbank passou a comandar as transações financeiras com a França, e Pétain, para cumprir o acordo fez promulgar vários decretos que suspendiam a Constituição da República Francesa…
Pétain justificou o acordo com a defesa da integridade da França e a segurança dos franceses face ao desastre nacional que, segundo ele, significaria a eventual resistência e afrontamento diretos ao avanço das tropas alemãs sobre território francês. Muitos franceses, especialmente entre as classes médias e possidentes optaram por, temerosamente, encarar este acordo como um mal menor.
Mas a consciência nacional de muitos outros não aceitou esta submissão contratual com o agressor e desencadeou a resistência contra os nazis, bem como, desiludidos com Pétain, o combate à política considerada colaboracionista deste. Em aliança com os britânicos, passados 4 anos, a resistência obrigou os nazis a recuar e Pétain a demitir-se...
Não consagrando embora uma ocupação militar, mas essencialmente económica, Portugal, pela mão do PS, PSD e CDS, justificando que se tratava de poupar o país a males maiores, assinou um acordo chamado de assistência financeira com o FMI e a UE que estipulou, para a obtenção de um empréstimo e de forma totalmente colaboracionista, a rendição do país a ditames internacionais considerados irrevogáveis pelo atual governo PSD/CDS. Tais ditames muito mais que uma ajuda, consubstanciaram uma verdadeira agressão continuada aos portugueses (ainda recentemente a troika exigiu que fosse efetuado em 2013 mais um corte na saúde, de 200 milhões de euros…).
Em paralelo com o que sucedeu no acordo de Vichy, o governo português passou a ser supervisionado pela troika (ocupante) e esforça-se por merecer sobretudo, não a confiança do povo e do país, mas a confiança do supervisor; a Constituição da República e os direitos e liberdades que ela consagra são suspensos ou violados; a economia passa a ser controlada em função de objetivos impostos pelo exterior, adaptada aos interesses dos credores, criando trabalho escravo e drenando a riqueza nacional para as potências do pacto. Conformará então o pacto que suporta tudo isto uma ajuda ou antes uma agressão ao nosso país e ao seu povo? E, nesse caso, qual deveria ser a resposta em conformidade? A do atual governo da República?
Com a pretensa aplicação integral à Região dos seus ditames, e apesar da aparente negação de César (mas com muito ainda por clarificar da parte de quem pertence a um partido seu subscritor na república…) uma versão interna do pacto, ao que parece, foi esta semana formulada e estendida aos Açores.
Creio poder afirmar com alguma propriedade que, no seu interesse e no interesse regional, a resposta dos açorianos a tal pretensão poderá ser diversa, mas não passará seguramente pela outorga da confiança eleitoral aos partidos colaboracionistas coligados no governo da República e agora promotores duma agressiva extensão regional do pacto troikista…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 22 de agosto de 2012