Só por anedota…

mario_abrantesEnquanto surgem os números em catadupa a demonstrar o total (avisado e previsível, digo eu) falhanço dos resultados das políticas de austeridade e recessão do governo de Passos Coelho, arrastando os portugueses, atrás delas, para um buraco, sem fim à vista, de mais desemprego, emigração, mais pobreza e…mais dívida (encargos para 2013 serão “só” 9,3 mil milhões em amortizações), e arrastando o país para a sua desagregação como Estado e Nação, a troika que, a troco de um empréstimo foi licenciada pelo PS, pelo PSD e pelo CDS, para se apossar da alma portuguesa, vem mais uma vez verificar resultados e, perante os governantes de calças na mão, hesita quanto à saída: mais austeridade, mais cortes salariais ou mais flexibilidade no défice autorizado para 2012?


Enquanto Relvas se escapa cobardemente para Timor, depois de deixar bombões nas mãos de gente (principescamente) paga para ferir de morte o serviço público de televisão e rádio, com o objetivo de tentar com isso juntar apressadamente à cobertura prevista do défice de 2012 (dada já como inatingível), mais uns “míseros” 100 milhões de euros, a troika, perante um governo de calças na mão, vem mais uma vez afirmar que as medidas até agora tomadas são boas mas são… insuficientes!


Está-se entretanto a esgotar o crédito popular. Como reflexo disso, aí estão as crescentes fissuras da coligação do poder e mesmo entre os seus apaniguados e seguidores. Começam até a soltar-se avisos temerosos, para com o rumo político adotado, de entre os opinativos habitualmente alinhados com o partido maioritário da coligação, o PSD.


Mais! Aliada à de muito boa gente da chamada “intelligenza” portuguesa, a posição tomada pelos Conselhos de Administração e de Redação da RTP, contrária às obscuras e perversas intenções políticas do governo de Passos Coelho de se furtar a obrigações constitucionais e a responsabilidades inalienáveis de serviço público para com os portugueses e as regiões autónomas, são um sinal interessante, ao nível da esfera do poder e afins, de que neste país nem tudo está à venda, nem tudo está a saldo...


E exatamente por ser isso que importa, seria importante também que ou antes ou depois das eleições de Outubro (pois persiste a vontade da República e da Troika em alterar a Lei de Finanças Regionais), ficasse demonstrado ou assegurado na Assembleia Legislativa dos Açores, em especial através dos seus deputados eleitos, que a Autonomia, perante um empréstimo da República, não ficou (ou não vai poder ficar) suspensa por mor das condições de concessão acordadas entre o governo regional do PS e o governo centralista do PSD/CDS, tendo a troika por madrinha mutuamente consentida…


E perante o comportamento aparentemente pouco abonatório e pouco transparente do governo regional neste quadro, só mesmo por anedota seriam entretanto (em contraponto) fiáveis as intenções proclamadas de “resgate” futuro duma Autonomia agora refém, por parte de um partido que já a comprometeu antes, de forma sistemática, quando em Janeiro de 2011, nos Açores, apoiou e vitoriou a eleição de Cavaco e Silva, ou quando em Junho do mesmo ano, apoiou e saudou efusivamente a vitória da coligação PSD/CDS e a consagração de Passos Coelho como Primeiro-Ministro de Portugal, ou finalmente quando este ano em congresso regional declarou o seu apoio expresso e solidário às “corajosas reformas” encetadas pelo governo da república em exercício…



Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 31 de agosto de 2012