
Tal como em 25 de Abril de 1974, a história está plena de exemplos de grandes mudanças progressistas e conquistas civilizacionais da humanidade que só aconteceram por obra do(s) povo(s) enquanto agente(s) políticos, em nome dos seus interesses comuns, em oposição a interesses particulares instalados e ao individualismo conservador que em geral sustentavam e se sustentavam da injustiça e da exploração de uns homens por outros homens, negando estes últimos, por essa via, o direito político de cidadania aos primeiros.
Em Outubro haverá eleições nos Açores. Dois protagonistas individuais, ditos candidatos a Presidente, preenchem em termos de informação (objetivamente manipulada) quase todo o espaço político disponível das opções artificiosamente apresentadas a escrutínio perante uma massa popular dada como amorfa, que ambos procuram arregimentar pressupondo que se mantenha como tal. Mas o que a História nos pode ensinar é que dois protagonistas individuais, candidatando-se para além do mais a um cargo não diretamente elegível (o cargo de Presidente do Governo Regional), e assumindo-se como plenipotenciários sobre o futuro dos Açores, não substituem, e em certa medida até contrariam, a vontade soberana do Povo Açoriano e as múltiplas opções que essa vontade, exercida de forma ativa e organizada pode determinar.
Aqueles que, apesar de inviamente preteridos pela informação manipulada em favor dos dois protagonistas individuais, serão os efetivamente eleitos de forma direta, podendo até provir de forças políticas bem diferentes das que apoiam aqueles, isto é, os futuros deputados do Parlamento Açoriano, terão uma responsabilidade muito particular: não a de representarem os interesses do centralismo e da troika junto do Povo mas a de representarem o Povo e a sua vontade soberana perante um poder centralista que, servindo interesses alheios, usurpa a cidadania e a autonomia política, empobrecendo o país e comprometendo o desenvolvimento socialmente útil dos Açores.
E em caso do ato eleitoral de Outubro determinar a ausência de maioria absoluta de deputados para qualquer dos partidos que suportam os dois ditos candidatos a Presidente, essa responsabilidade tornar-se-á mesmo crucial para, protagonistas individuais à parte, a vontade política soberana do Povo Açoriano poder vir a exprimir-se de forma consequente e eficaz no futuro imediato.
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 6 de setembro de 2012