Parados…

mario_abrantesParados sim! E muito bem parados…

Foi assim que estiveram ontem milhões de portugueses (trabalhadores em particular mas até pequenos empresários), em simultâneo com outros milhões por essa Europa fora num amplo protesto nacional e internacional que tenderá a repetir-se cada vez mais, unindo todos aqueles que, vítimas de uma ofensiva ideológica sem precedentes (e sem fronteiras), pelos ofensores intitulada de “austeridade”, não encontram outra forma de se defender do roubo e da extorsão politicamente organizados que este conceito verdadeiramente representa senão pela sua própria mobilização e luta coletivas.

Parados sim! E muito bem parados…

Porque se há um governo e uma  troika a avançar contra um país inteiro (como dizia um militar na grandiosa manifestação de sexta-feira passada), é necessário parar para resistir e afirmar que quem está a mais não é o país nem aqueles que nele trabalham são aqueles que contra eles avançam.

Porque há um governo e uma troika que, desde que existem e no espaço de ano e meio, tornaram o país mais pobre, mais endividado (mais 630 milhões de euros por cada mês), a produzir menos, com muitos mais desempregados, com muito menores salários, ressuscitando a fome e restaurando a emigração como forma de fugir à desgraça e à ruína!

Parados sim! Porque antes parados que levados de recuo, retrocesso e de desaire em desaire, conduzidos para o abismo por um governo e uma troika que, sob o pretexto de a qualquer preço defender os direitos dos credores, retiram os direitos às pessoas, lamentam muito o sofrimento que isso lhes causa, e nada mais sabem fazer senão “cortar na despesa”, “aumentar os impostos” e destruir a economia, a democracia e a independência nacionais.

O economista Eugénio Rosa, em artigo publicado no semanário Atlântico Expresso de segunda-feira passada explicou preto no branco:

- De 2011 a 2013 a subida de impostos (incluindo a estimada na proposta de OGE para 2013) tem 68% (seis mil milhões) de origem nos rendimentos do trabalho e das pensões;

- Em apenas 3 anos (2011/2013) processam-se cortes nos serviços e nas despesas públicas de 14 mil milhões (incluindo o roubo de 4 mil milhões aos funcionários públicos e pensionistas) e aumentos de impostos no valor de 9 mil milhões, ou seja um saque total de 23 mil milhões que deixa de lado ou pouco belisca os grandes grupos económicos, as transações financeiras, os dividendos dos grandes acionistas, as parcerias público-privadas, os benefícios fiscais às seguradoras e à banca e os juros de agiota desta última sobre a dívida portuguesa (em 3 anos os contribuintes portugueses pagarão quase 22 mil milhões de juros), com o BCE a lavar as mãos das suas responsabilidades.

Parados sim! E muito bem parados…para resistir ao arrasto para o abismo. Foi isso que os portugueses fizeram ontem e irão continuar a fazer até onde for preciso por uma questão óbvia de legítima defesa e de sobrevivência.

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 15 de novembro de 2012