O reconhecimento

anibal_pires.jpgA formação da identidade, individual ou de grupo, tem uma relação directa com o reconhecimento, a sua inexistência ou o reconhecimento incorrecto. Conceitos como a dignidade, a autenticidade e originalidade (estes mais recentes) são característicos das sociedades democráticas estão na origem do conceito de identidade e substituíram gradualmente o conceito de honra das sociedades hierárquicas.

Estes conceitos estão na origem das políticas do reconhecimento igualitário que garantem um conjunto de direitos e deveres para todos os cidadãos e, às políticas da diferença que garantem o reconhecimento da originalidade de cada ser humano e a sua identidade individual ou de grupo. Alguns autores consideram que as políticas assentes no reconhecimento igualitário, sendo homogeneizantes, têm uma componente mais ou menos “hospitaleira” em função da valorização que é dado ao conceito de identidade e ao reconhecimento da originalidade de cada individuo ou grupo. O “melting pot” nos Estados Unidos e o “mosaico cultural” no Canadá podem ilustrar, respectivamente, a homogeneização menos e mais “hospitaleira”. Ou seja, as sociedades que reconhecem a diferença e a integridade cultural convivem melhor com uma realidade contemporânea que decorre da permeabilidade das sociedades ao fenómeno migratório e que as vai gradualmente transformando em sociedades multiculturais.

Mas, só por si, o reconhecimento igualitário e o reconhecimento da diferença quer na versão homogeneizante ou na versão multicultural não são suficientes para o convívio harmónico dos indivíduos e dos grupos, porque, quer um modelo quer outro, têm associados padrões culturais etnocêntricos e modelos sociais e económicos que estimulam a segregação ou, então, a assimilação. As sociedades contemporâneas e o Mundo são caracterizados por uma grande diversidade cultural da qual não podemos alhear-nos. Os valores Universais vertidos em diferentes documentos que a comunidade mundial subscreve e aceita, a par da concretização e generalização de direitos individuais elementares afiguram-se como o quadro em que as políticas para a diversidade se devem imbuir caminhando, não para sociedades multiculturais mas, para sociedades interculturais onde a diversidade e a pluralidade são sinónimos de interacção e troca, sociedades onde se reconheçam os valores simbólicos e modos de vida, e se acentuem as interacções e interdependências culturais potenciando-as no quadro do conceito de desenvolvimento humano adoptado pelas Nações Unidas.

Aníbal Pires, IN Expresso da Nove, 27 de Outubro de 2006