Este será o último artigo de 2012 nesta colaboração que mantenho com o “Incentivo”, pelo que penso ser adequado fazer algumas notas, em jeito de balanço, sobre a evolução da situação política nacional, no ano que terminará daqui a alguns dias.
Penso que a melhor síntese que se pode fazer, quanto à evolução da política nacional, é a de dizer que este foi o ano em que caiu a máscara, que disfarçava as intenções de quem exerce o poder. A meados de 2011, o PSD e o CDS/PP ganharam as eleições na base de programas e de um conjunto de promessas que excluem as medidas neoliberais radicais que estão a aplicar com a violência que conhecemos.
Serão hoje muito poucos os portugueses informados que aceitam a ideia, repetida até á náusea, de que a enorme austeridade imposta a quem trabalha e aos reformados se destina a resolver o grave problema financeiro que afecta o País. Cada vez há mais austeridade, mais impostos, menos capacidade económica, mais desemprego, piores prestações sociais e apesar disso a divida cresce e o défice só é relativamente contido à custa da venda ao desbarato de valioso património público. Quem está a fazer esta destruição massiva visa, principalmente, pôr em causa a actual organização da sociedade, em tudo o que diz respeito à proteção social, à detenção pelo Estado de empresas e sectores estratégicos e ao nível salarial em vigor.
Depois de consumada esta destruição, aqueles que estão no poder já sem qualquer legitimidade, querem impor um modelo inspirado pelas teses neoliberais, onde os salários serão mais baixos, os serviços sociais serão privados, o trabalho será ainda mais desregulado, a exploração da força do trabalho será maior, o número de pequenas empresas será muito menor, a qualidade de vida será bem pior e as grandes fortunas serão bem maiores.
A máscara caiu: hoje, mesmo os mais crédulos, percebem que o que motiva Passos Coelho, Portas, Gaspar e demais apaniguados, é obedecer às ordens do grande capital financeiro internacional e é obedecer a Merkel, que representa um poder político dominador em relação aos povos da Europa e submisso em relação ao capital financeiro. Portugal e a maioria dos portugueses estão a ser empobrecidos, não para enfrentar uma conjuntura financeira complexa, mas para ser criada uma situação permanente de maior submissão e maior exploração.
A União Europeia tem a sua classe burocrata dirigente empenhada neste processo de “construção” de uma Europa com dominadores e dominados. A Zona Euro e o Banco Central Europeu assumem-se como instrumentos executivos desta política de empobrecimento de alguns e de destruição total da soberania dos Estados.
A máscara caiu: hoje, mesmo os mais casmurros, percebem que o País está a ser destruído por um “cilindro” manobrado pelos principais dirigentes políticos no poder, que se colocaram na posição de servir interesses antagónicos aos interesses de Portugal e dos Portugueses.
O ano de 2012 serviu para demonstrar que, tal como alguns há muito diziam, a política de direita feita em Portugal, com Cavaco, Guterres, Barroso, Santana e Sócrates, serviu para abrir caminho à política de venda e destruição geral feita por Passos e Portas.
A máscara caiu: afinal o País está é a ser friamente liquidado, pelos que tinham o estrito dever de o defender e promover, no quadro constitucional que juraram respeitar, o seu desenvolvimento.
É preciso fazer esta pergunta: e nós, Portugueses, o que fazemos? Pomos a cabeça no cepo, a jeito? Ou defendemos o País de Abril que construímos?
Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado em 19 de Dezembro de 2012