A falência do sistema financeiro, encoberta por governos cúmplices determinados na sua salvação, desde 2008, fez injetar uma interminável série de biliões de euros públicos na banca internacional e europeia. Só em Portugal, debilitado pela destruição progressiva do seu aparelho produtivo (subsequente à adesão à União Europeia), injetou-se o BPN e o BPP e legitimou-se a evasão fiscal dos poderosos criando, por esse facto (e não por qualquer outro) um défice e uma dívida monstruosos e crescentes.
Para pagar a salvação do sistema financeiro em Portugal, fez-se uma operação: pedir dinheiro à Europa. E com ela chegou a “ajuda” da troika, cuja parte de leão foi de imediato cativada à recapitalização bancária ficando o Estado português como seu exclusivo avalista, ou seja o seu povo e a sua já débil economia. Enquanto isso, só entre Dezembro de 2011 e Fevereiro de 2012, a troika (Comissão Europeia, BCE, FMI) distribuiu um milhar de mil milhões de euros à banca europeia! Junto com o dinheiro, que dizem não haver mas afinal há, existe assim uma opção ideológica clara quanto ao seu destino.
Essa opção tem de momento excelentes executores no governo português os quais estão empenhados em ir com ela até ao fim subvertendo o próprio país e toda a sua estrutura social e económica.
“Por um lado fabricam-se pobres, através de um sistema social iníquo. Por outro lado, esmolam-se os pobres que se criaram. É repulsivo? É, sim. E estão em campo as mesmas famílias (descendentes ou afins) praticantes dos bodos dos tempos do fascismo” (Mário de Carvalho em “Avé Portugal Mendigo”).
Por um lado eliminam-se feriados oficiais por direito, por outro lado esmolam-se tolerâncias de ponto para o Natal e Ano Novo.
Na continuidade da tendência que já vinha de 2009, conforme confirmação da União Europeia no início do ano corrente, foi esta a opção definitiva do poder político em Portugal, logo que os promotores de tal caminho (Governo e Presidência da República) puderam começar em 2012 a agir em aberta sintonia ideológica. Portugal é assim o país da UE em que o esforço dos sacrifícios financeiros exigidos ao seu povo, por culpas que não lhe cabem, tem recaído de forma sistemática, deliberada e quase exclusiva, não sobre os culpados mas sobre os que trabalham e os que menos têm. São estes a fonte oficializada das transferências financeiras do Estado para o exterior, comandadas tanto pela troika, como pelo Governo e Presidente da República.
Em 2012, pela mão dos seus atuais responsáveis governativos, Portugal começou a ser encaminhado de forma sistemática e autista para uma condição diferente: o país da esmola a eternizar e da permanente ausência de direitos, particularmente de quem trabalha, em que a pobreza, o desemprego e as desigualdades, reproduzindo-se como uma praga para as suas vítimas, estiveram a ser deliberadamente transformados em doenças incuráveis (2013, 2014 e por aí fora), apenas passíveis de cuidados paliativos e para serem encaradas como naturais e estruturantes da nossa realidade social futura…
Abril tinha estancado isso, a Constituição Portuguesa não o permite na letra, e as vítimas cada vez mais numerosas e potenciais desta reorientação política desastrosa, tanto as que já a combateram em 2012 como as outras que se lhes juntarão, não o permitirão na prática em 2013.
Os meus votos para o próximo ano são os mesmos que os da maioria dos portugueses: Que, com a continuação da resistência e da luta em todas as frentes, o governo Passos Coelho/Paulo Portas e a sua política (apadrinhada pelo atual presidente da República) se vejam arredados do poder…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 31 de dezembro de 2012