O ano de 2012, que agora findou, começou por ser o ano da hipocrisia, mas acabou, com a promulgação do Orçamento de Estado, por abrir caminho ao ano do descaramento, que será este de 2013, se todos nós deixarmos.
Nos finais de 2011, inicio de 2012, o poder estabelecido nesta Republica a empobrecer rapidamente, proclamava aos quatro ventos que “os sacrifícios pedidos aos portugueses” se destinavam a resolver uma situação de divida e de défice orçamental excessivos. Houve quem alertasse de que não era essa a questão central que determinava a política radical de direita que estava a ser desenvolvida, mas o certo é que essa política foi desenvolvida de forma brutal, diminuindo rendimentos, salários e pensões, diminuindo e retirando valor a muitas prestações sociais, aumentando desmesuradamente impostos, vendendo pelo preço da “uva mijona” património público de alto valor, etc. Tudo isso foi feito e a divida continuou a aumentar, enquanto o défice só é contido com a alienação de empresas públicas estratégicas e geradoras de rendimento.
A hipocrisia do discurso do PSD e PP é, a partir de Outubro, completamente desmontada por eles próprios, quando se conhece a proposta de Orçamento de Estado para 2013, que de facto revela as reais intenções deste poder aventureiro, rapinador e destruidor do País.
Cavaco Silva, Presidente da Republica, teve também um comportamento que assentou num estranhíssimo silêncio de meses, para desaguar na promulgação do OE, invocando o “interesse nacional”. Do silêncio hipócrita, evoluiu para o descaramento da total aprovação desta política de desgraça. Não é exagero dizer-se que, ao promulgar o OE, Cavaco Silva se assumiu como primeiro responsável da política de destruição nacional que está a ser feita. E não é exagero, porque ele tinha poderes para impedir que a situação evoluísse assim e, simplesmente, não os quis usar.
Hoje é claro que o que está a ser feito visa criar uma organização colectiva onde os rendimentos do trabalho sejam menores, o grau de exploração seja maior, as reformas e pensões sejam pequenas e muito pequenas, o tecido empresarial contenha muito menos pequenas empresas, os apoios sociais públicos sejam reduzidos, a educação e a saúde passem a ser áreas de negócio, a solidariedade social seja substituída por uma espécie de caridade dominadora, os poderes públicos sejam concentrados e a participação política muito diminuída. Esta é a política que interessa ao grande capital financeiro internacional e que, nesta Europa onde há dominadores e dominados, é ditada por um Estado, a Alemanha, que, simultaneamente, aspira a hegemonizar e é submisso a esse capital financeiro internacional.
Em 1914 e 1939 os exércitos alemães invadiram quase toda a Europa para realizar a conquista que possibilitaria a hegemonia e o domínio. Para bem da humanidade esses poderosos exércitos foram derrotados. Hoje, a supremacia do capital financeiro e especulador, permitida pelos dirigentes dos Estados, que se prontificam a seguir essas políticas, está a possibilitar que a Alemanha exerça um efectivo e brutal domínio sobre os Estados que aceitaram ter uma moeda, o euro, que, na realidade é o marco.
Começamos 2013 com as piores perspectivas possíveis. Os impostos vão subir muito, os rendimentos vão descer, o investimento vai cair, o desemprego vai continuar a subir, a economia vai contrair ainda mais, com falências e cessações de actividade numa dimensão muito grande. Vai crescer o número de famílias que vai deixar de poder satisfazer os seus encargos. Tudo o que se avizinha é muito negro e muito sério. A acrescentar a tudo isto a democracia, ou seja, a capacidade dos portugueses decidirem o seu destino, vai ficando cada vez mais limitada e vai sendo substituída por um arremedo grosseiro de participação com nenhum sentido e utilidade.
Não me canso de pôr uma questão: quem vive honestamente do seu trabalho, quem sobrevive com uma reforma para a qual descontou toda a vida, quem está a começar agora a vida produtiva e não sabe se terá trabalho no País, quem toda a vida se dedicou ao comércio ou a actividades individuais da produção ou dos serviços e que cada vez está mais perto de não ganhar para comer, quem, por opção, dedicou a sua vida à defesa do País e à segurança dos cidadãos, quem defende e valoriza a democracia em sentido verdadeiro, estarão todos estes dispostos a aceitar que um grupo de palhaços vendidos destrua este País, ponha em causa a qualidade de vida possível e aumente, sem limite algum, a exploração absurda que o capitalismo potenciou?
Será que vamos aceitar este absurdo domínio ou, pelo contrário, vamo-nos defender?
Faço votos que em 2013 os “Migueis de Vasconcelos” deste século XXI sejam derrotados!
Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado em 6/01/2013