Concordo plenamente com a afirmação do senhor ministro, até porque deixar tudo na mesma será manter 1/5 da população portuguesa a viver abaixo do limiar da pobreza e mais de 5% da população portuguesa sem emprego. Mas a afirmação do senhor ministro, se bem que ao longo da entrevista o queira parecer, não significa que o governo a que ele pertence esteja a levar a cabo uma política de esquerda. A equipa ministerial do eng. Pinto Lopes, da qual Silva Pereira é figura proeminente, está a levar a cabo as reformas reivindicadas à muito pela direita portuguesa, pelo capital, nacional e europeu. Ou seja, está a privilegiar os interesses das oligopólios nacionais e internacionais em detrimento dos interesses nacionais que são, salvo melhor opinião, garantir aos portugueses condições de vida dignas e bem-estar social e económico. Dirão os cidadãos da “esquerda” a que o ministro diz pertencer, e toda a direita, que o caminho tem de ser este pois a economia em Portugal e na União Europeia têm de se tornar competitivas face às competitivas economias estado-unidense e asiática.
Os cidadãos da esquerda dirão que hà alternativa a esta opção. Uma alternativa que valorize os cidadãos e os dignifique e não os olhe apenas como factores de produção e como um custo social. A educação e a formação assumem, na construção de uma alternativa a esta política, um papel determinante para o aumento da produtividade e da competitividade da economia nacional, aliás este é um discurso transversal à esquerda, à “esquerda” que Silva Pereira advoga e à direita. A “esquerda” do ministro e a direita propõem Bolonha porque representa diminuição de custos e uniformização, mas também diminuição de níveis de formação e restrições, pela via económica, ao saber e ao conhecimento. A esquerda, aquela que não só parece como de facto o é, luta por parar Bolonha porque sabe que só o conhecimento científico, tecnológico e cultural pode libertar o Homem.
Aníbal Pires, IN Açoriano Oriental, 30 de Outubro de 2006