Um rumo sem país

mario_abrantesOntem alguém me dizia com uma cara de infinita tristeza: “Qualquer pessoa com a quarta classe estava capaz de gerir melhor este país do que aqueles que estão agora a governá-lo…”
E bem vistas as coisas não está mal pensado. Conheço muita gente de parcas posses e com fraco grau de instrução oficial que gerem de forma rigorosa e coerente os bens e a vida familiar a ponto de, apesar de todas as dificuldades anteriores e presentes, ainda conseguirem sobreviver com uma réstia de dignidade, coisa que no presente não acontece com o nosso país.

Num primeiro sinal, foram os anos anteriores de governações à mão larga para muita clientela, de destruição sistemática de um aparelho produtivo criador de riqueza, e as deserções de um 1º Ministro para chefiar a Comissão Europeia e de um Governador do Banco de Portugal para co-chefiar o Banco Central Europeu.

De seguida e mais próximos no tempo, foram os tristemente célebres PEC’s do agora retornado anterior 1º Ministro, os quais confluíram num acordo desastrado subscrito por três partidos (que, por acaso, ainda não são ex-portugueses) com o FMI, a União Europeia (do ex-governante português) e o Banco Central Europeu (do ex-governador português), vulgarmente conhecidos por “troika”, com vista a ser não só rigorosamente cumprido como até superado (imagine-se a arrogância inconsciente).

Desde então e em ritmo cada vez mais acelerado (da falta delas ninguém se pode queixar) que se vêm tomando todos os dias medidas governativas, muitas contradizendo as anteriores, de carácter político, económico e social, num incessante frenesim, as quais mexem com tudo e com todos e conduzem os portugueses, não se sabe bem para onde (alguém saberá certamente…). O que se sabe sim é que, em consequência de um tal atribulado percurso governativo, há um país que se esvai, donde saem manda-chuvas e ladrões por um lado e emigrantes pelo outro. Um país que se vai diluindo e destroçando, com a ameaça real de, a prosseguir o flagelo dessas e doutras medidas, em pouco tempo acabar por desaparecer do mapa…
Porque aquilo que era um impecável e até superável acordo com a troika, única via para salvar Portugal, perante os subsequentes e sucessivos falhanços e o agravamento de todos os parâmetros da anunciada salvação económica, política e social portuguesa causados pela sua aplicação, afinal precisa de uns ajustes, diz o 1º Ministro. Não foi um acordo adequado, diz o Ministro Gaspar. É necessária uma remodelação governativa, diz o parceiro da coligação. É o próprio 1º Ministro que tem de ser substituído, dizem alguns chefões dos partidos da coligação. É uma desilusão diz a troika. É uma espiral recessiva diz o Presidente da República. Precisa de uma moção de censura, mas que não o ponha em causa, diz o PS. E, contudo, as medidas prosseguem e o seu sentido é sempre o mesmo e sempre aumentando as desgraças que toda esta gente afirma pretender evitar ou corrigir…  

É um país que, para sobreviver, precisa de se reencontrar consigo próprio e travar o rumo desconhecido e fatal para onde está a ser conduzido. Ao seu povo deverá ser dado o direito de se pronunciar sobre o caminho a seguir. E isso não se faz nem com remodelações governamentais, nem com a manutenção de acordos que geram desastres incontornáveis. Faz-se sim pondo rapidamente fim a este (des)governo, dando a voz ao povo através de eleições, renegociando os compromissos e retomando o crescimento económico e a soberania nacional, com ou, se necessário, sem euro, no quadro europeu em que estamos inseridos.


Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 31 de março de 2013