A Europa feita em cacos

jos_decq_mota_webO que se andou a fazer nesta Europa da União, com as sucessivas alterações aos tratados e com a construção da moeda única com as características que tem, foi criar as condições para ir trocando as soberanias nacionais pelo poder dominador de um diretório cada vez mais reduzido a um único País, a Alemanha.

Depois de feito um longo caminho de negação da ideia que a construção europeia teria que assentar na cooperação e solidariedade de Países Soberanos com muitos interesses comuns, a realidade é hoje tão crua, quanto clara: a União Europeia está feita em cacos, transformou-se, simultaneamente, no veículo do poder do grande capital financeiro e no instrumento do domínio económico alemão sobre os restantes países da União. A Europa está feita em cacos, mas possui um enorme aparelho burocrático que domina ainda as elites governantes da generalidade dos países da União.

A questão do Chipre foi tratada, pela União Europeia, de modo brutal e obscuro. A natureza brutal da intervenção é semelhante a outras intervenções que contemplam confisco de rendimentos legítimos, mas foi agravada pelo facto de ter estilhaçado a confiança dos povos da Europa no sistema bancário. O lado obscuro destas medidas prende-se, quer com a ausência de explicações claras, quer com o facto de algumas das mais importantes filiais dos principais bancos cipriotas no estrangeiro não terem fechado durante o período de encerramento dos bancos em Chipre.

Esta “Europa feita em cacos” só não se transformará, a título permanente, num monstro dominador, se os Povos dos Países desta União Europeia, pervertida em relação aos seus objectivos iniciais, souberem retomar de modo pleno os respectivos poderes soberanos e, com eles, visarem construir uma verdadeira União de Países Soberanos com um elevado grau de cooperação.

 

Artigo de opinião de José Decq Mota, 31 de Março de 2013