Mais um trágico pacote a acrescentar aos anteriores

mario_abrantesAntes de falar de qualquer outro assunto, gostaria de congratular-me publicamente com a iniciativa do PCP na Assembleia da República da apresentação de uma Resolução, aprovada por unanimidade por todos os partidos nela representados, no passado dia 3 de Maio, visando vincular o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas às obrigações da Lei de Finanças Regionais a que pretendeu fugir, no respeitante à concretização da solidariedade nacional, através do accionamento de mecanismos de apoio extraordinários para a reparação dos prejuízos (humanos e materiais vultuosos) sofridos pelos Açores em consequência dos temporais de Março.

Sobre o enésimo e mais uma vez gravíssimo pacote de austeridade apresentado pelo Primeiro-ministro, tal como os anteriores a mata-cavalos e sem outra motivação subjacente e objetiva que não, novamente também, os cortes orçamentais, para tentar, sem nunca alcançar, a redução de défices e o pagamento de dívidas a entidades externas, apenas se me oferece dizer: Com o que resta de Democracia, de Estado de Direito e de País, acabe-se de vez com palhaçadas e experiências sociais trágicas; o governo que se vá embora por incompetente, amedrontador dos cidadãos, desestabilizador político e social, devastador do país, e convoque-se o povo para eleições…

O Presidente da República que se auto-intitulou, após as primeiras medidas restritivas, como o “Provedor do Povo”; que mais tarde afirmou que o “povo não suportará mais austeridade e o país está a cair numa espiral recessiva”, no final das contas dá o apoio incondicional a todas estas (e às anteriormente por ele criticadas) medidas anti-populares, bem como a este governo…

Paulo Portas que era o “Provedor dos pensionistas” está como aquele que se vira para Passos Coelho, ameaçando-o, e diz (para os que o rodeiam oiçam) “segurem-me senão eu rompo com ele…”, mas de seguida, falando mal da troika, vai afinal dando cobertura às sobretaxas e aos cortes das reformas e pensões mesmo sem ninguém o segurar. Por agora já acertou que a sobretaxa seria o limite para romper, mas ao que tudo indica, pela rápida cedência do PSD, parece que afinal a cena patética já estava antes combinada com Passos Coelho e o que é certo é que não rompe coisa nenhuma, antes colaborou com ele (segundo o próprio Primeiro-ministro) na formulação de todas as outras desastrosas e impraticáveis medidas ditatoriais e de cortes cegos apelidadas de “Reforma do Estado” agora anunciadas.

Vitor Gaspar, no mesmo dia em que decreta o bloqueio financeiro das despesas do Estado, publica um despacho no D. Republica (2ª série, de 10 de Abril) em que autoriza um salário mensal de 10.000 euros para o presidente do IGCP, João Moreira Rato, um homem vindo dos bancos que desencadearam a crise (Goldman Sachs, Lehmon Brothers e Morgan Stanley), mais 8.000 e 7.000 para cada um dos respectivos assessores…

Passos Coelho, que acha este o único caminho para salvar Portugal, vai sendo dirigido pela chanceler alemã e pela submissão externa ilimitada e vai destruindo Portugal, destruindo em simultâneo o próprio PSD, tendo essa brilhante tarefa exclusivamente sustentada por dois pseudo-contestatários da sua política: Cavaco e Silva e Paulo Portas…

E o resultado é que nada resultou, resulta ou resultará, porque o país cada vez produz menos, e queira-se ou não, sem um caminho diferente, já estamos, pela mão desta maioria, deste governo e deste presidente, que afirmam rejeitá-los, a caminho dum 2º resgate ou da saída do euro, sem que nenhum sacrifício tenha valido a pena e numa posição profundamente mais debilitada perante os “parceiros” que, do exterior, “tanto nos têm ajudado”...

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 8 de maio de 2013