"O futuro de Portugal joga-se fora do país"! Esta frase do Presidente do Conselho Nacional do CDS (Pires de Lima), partido da coligação do governo da república, diz muito sobre um insustentável posicionamento político que envergonha qualquer português em qualquer parte do mundo e que justifica muito do que de mal se está (e continuará) a passar...
Num país democrático, um partido que assim fala, das duas uma, ou simplesmente se está a demitir de governar para dentro, ou está no governo para que o país seja governado de fora. Um partido que assim se nega a si próprio enquanto parceiro de governo, o que está lá a fazer ainda?
Uma coisa é a realidade da nossa atual dependência externa, outra coisa é aquilo que o CDS, com esta frase, está a negar, isto é, a responsabilidade de, sejam quais forem (e por pior que forem) as circunstâncias, se dever estar enquanto governo, contando com as forças próprias do país a combater essa realidade, ou seja, a "jogar" o futuro de Portugal com os portugueses e pelos portugueses. É que as últimas sondagens mostram que mais de 80% dos portugueses querem a renegociação ou a denúncia do desastroso acordo com troika...
Uma coisa é, no momento em que internamente se discute a configuração da nova Lei de Finanças Regionais (que levanta legitimas criticas ao seu carácter anti-autonomista), a OCDE interferir nessa discussão e decretar do exterior essa configuração e a urgência de a aprovar, quer ela seja do agrado ou não (e não é) dos povos açoriano e madeirense, outra coisa é aceitar passivamente que isso se passe exatamente assim e, pior ainda, por cobardia política o governo central encomendar exatamente esse discurso à OCDE, esvaziando de conteúdo a discussão interna que sobre esta Lei decorre entre a Comissão Específica da Assembleia da República e os legítimos representantes das Regiões Autónomas.
Esta frase de Pires de Lima resume a encruzilhada para a qual Portugal foi encaminhado e da qual terá de sair, custe o que custar, mas não certamente pela mão do CDS. Relativamente à Autonomia, explica também o desprezo a que foi votado o dia dos Açores, através da convocação para o mesmo dia pelo Presidente da República de um inútil Conselho de Estado para discutir o pós-troika, quando é a troika o verdadeiro problema. Seria como um comandante que no fragor da batalha de final incerto, resolvesse discutir com os seus adjuntos o que iriam fazer depois dela, em lugar da estratégia para a vencer...
Esta frase sustenta também, como é óbvio, a irresponsabilidade do Presidente da República perante o país e a aplicação da sua lei fundamental.
E não serão as tremelicantes linhas vermelhas definidas por Paulo Portas quanto à TSU sobre os reformados e pensionistas que riscam ou apagam a total responsabilidade do CDS ao acordar com o PSD todas as outras medidas que já foram tomadas ou estão aprovadas para os expropriar, mais o resto das medidas restritivas e inconstitucionais já tomadas e que estão por tomar sobre o funcionalismo público e sobre os contribuintes, algumas delas da própria autoria de Paulo Portas, segundo Passos Coelho...
Só esta insana e declarada hipocrisia, mais os delírios pós-troikistas do Presidente da República, seguram, contra a vontade do país, um governo que joga o futuro de Portugal fora dele e contra ele.
É esta crua realidade que os portugueses enfrentam e contestam com cada vez maior impaciência, sofrendo mas lutando, como se verá no próximo sábado frente ao Palácio de Belém!
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 26 de maio de 2013