Isto, claro está, só é válido até quando o povo percebe que tem direito a mais do que “esmolas” e “festarolas”. Há coisas que nunca mudam aliás, para quê mudá-las se elas se adaptam aos nossos tempos. Tempos de globalização de tecnologias sofisticadíssimas e avanços científicos que, esperava eu, nos proporcionassem (a todos em qualquer espaço da casa comum) dignidade e bem-estar social e económico. E uma das coisas que não vale a pena mudar em tempos de pós modernidade é o antiquíssimo receituário que garante a perpetuação no poder. No país e na região temos, actualmente, bons exemplos de alguns “imperadores” e “imperatrizes” que, cada qual ao seu estilo, depois de se instalarem foram ganhando um crescente apoio popular. E os estilos, uns a roçarem a boçalidade outros a urbanidade, pouco importam se o receituário for bem adaptado ao público-alvo. Mas passemos a alguns exemplos: - Alberto João Jardim, Valentim Loureiro, Pinto da Costa, Fátima Felgueiras, Isaltino Morais e José Sócrates, no contexto nacional, Berta Cabral e Carlos César, como paradigmas regionais.
Qualquer das ilustres personalidades que citei, para ilustrar a tese de que a velha fórmula do pão e do circo se mantém actual e continua a servir para reforçar o poder ao poder, pode ser categorizada num dos estilos (boçal ou urbano) que em cima enunciei mas essa tarefa fica ao cuidado do leitor. Até porque cada um de nós interpreta o comportamento dos indivíduos, valoriza os objectos e analisa os acontecimentos de perspectivas diferentes e não é minha intenção influenciar este exercício que, julgo, deve ser do foro íntimo. Mas o que é que eles e elas têm em comum. Bem! Ganharam eleições e em segundos (ou mais) escrutínios viram o seu apoio eleitoral e popularidade aumentar significativamente. Com excepção de José Sócrates, incluído no rol porque a sua popularidade, se atendermos aos estudos de opinião, mantém-se em alta. Mas será que o reforço da legitimação democrática corresponde a bons desempenhos dos cargos para os quais foram eleitos ou nomeados?
Também aqui cada um de nós terá, segundo o seu ponto de vista, opiniões diferentes. Os adeptos do Futebol Clube do Porto não têm dúvidas. Os amantes dos ambientes “underground” proporcionado pelos túneis que rasgam a “Pérola do Atlântico” dirão que sim. E todos terão os seus apoiantes conforme as simpatias e gostos de cada um. Eu também! Tenho a minha própria opinião e muitas dúvidas se o que mantém estas personalidades no poder são os seus desempenhos. O desemprego nos Açores é, segundo os dados oficiais, o mais baixo do país. Não tenho razões para duvidar dos números mas, quando cruzo os dados da população activa com os dados da população em idade activa dou por falta de alguns milhares de cidadãos. E a pergunta é: - Onde estão esses milhares de cidadãos em idade activa que não constam da população activa? As respostas podem ser várias mas a verdade é que o rigor estatístico tem neste, como noutros, casos pouco a ver com a realidade vivenciada. O espaço por hoje acabou. Prometo dar continuidade ao “folhetim” na próxima semana.
Aníbal Pires, In Expresso das Nove, Novembro de 2006