Uma onda de loucura está a assolar Portugal. Segundo recados de fora, de “amigos” de Vítor Gaspar, como o Presidente do Eurogrupo, temos de empregar todos os meios para precipitar a nossa queda o mais fundo possível, para mais tarde acedermos à felicidade. Este escândalo de se procurar a felicidade pelo terror, como diz Batista Bastos, “explica-se” pela necessidade de socorrer o capitalismo “custe o que custar”, na conclusão brutal de Passos Coelho.
Batista Bastos reflecte assim de forma límpida a consciência da esquerda em geral sobre o actual governo e o que se está a passar no país, gerando a necessidade de se adotar urgentemente um caminho diferente para libertar Portugal dos seus atuais “salvadores”…
Mas estamos aí perante um (e talvez não único) orçamento rectificativo que vai muito mais longe em cortes do que aqueles que o Tribunal Constitucional condenou, e ainda, segundo os seus responsáveis (Coelho e Portas), perante uma unilateral e urgente “reforma do Estado” que nos prenuncia, em tom claro de ameaça, mais e mais medidas sem fim à vista para o nosso enterro, depois das quais não serão possíveis nem a ressurreição nem a felicidade futuras de quem quer que seja a não ser do capital financeiro.
E sobre esta ditadura disfarçada de democracia, que Passos Coelho afirma ser legítima (mas só possível de existir pela mão de quem não a quer travar apesar de estar constitucionalmente obrigado a fazê-lo: o Presidente da República), começam a ouvir-se cada vez mais alto outras vozes confluentes com as da esquerda, num campo muito mais amplo, tanto institucional, como intelectual e cultural, ou mesmo de sectores da própria direita, próxima ou até filiada nos partidos da coligação.
É a antiga procuradora Geral da República, o Conselho Económico e Social e mesmo o Provedor da Justiça (imediatamente censurado pelo governo, à moda salazarista de “quem não é por mim é contra mim”). É Manuela Ferreira Leite que classifica o governo de cruel e o acusa de estar a destroçar o país, exigindo a demissão de Paulo Portas. É Pacheco Pereira que acusa o governo de fazer um discurso de guerra civil, de desprezar o país, desvalorizar o trabalho e fazer dos portugueses “ratos de laboratório”. É um recente assessor do Ministro da Economia, Carlos Vargas, que classifica Vitor Gaspar de “psicopata social” e o considera o ministro das finanças mais arrogante e incompetente desde o reinado de Dª Maria II. É o Secretário-geral da UGT e as posições mais críticas desta central sindical, etc., etc.
A demissão imediata de um tal governo já não é somente um problema da esquerda mas um problema nacional de primeira ordem para a esmagadora maioria dos portugueses. Parece que só para António José Seguro as águas continuam turvas, neste seu jogo de se preocupar antes de tudo, não com a urgente queda do governo e a interrupção das suas políticas, mas com o seu próprio futuro eleitoral e com as alianças que fará tanto à esquerda…como à direita, já para não falar das dificuldades evidentes que demonstra em assumir uma ruptura com o pacto troikista…
Era já tempo de estar claramente de braço dado com esta frente ampla que se vai formando e engrossará em Junho, pela ação dos professores, da Greve Geral e outras acções de luta, porque só elas, representando a voz do Povo Unido, poderão derrotar o governo e esforçar-se seriamente em seguida para cortar na dívida como única despesa que pode ser cortada sem provocar recessão e desemprego, permitindo outro rumo para Portugal.
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 8 de junho de 2013