Em dois anos de mandato ao serviço da troika, escondendo muitas vezes a sua incompetência ou protegendo os intocáveis pela administração premeditada (que dizem geral) da austeridade e do empobrecimento, que outra coisa mais tem feito o governo da coligação PSD/CDS senão abusar dos sentimentos e crenças de um povo, utilizando métodos torpes, para provocar divergências no seu seio e ocupar terreno favorável a interesses políticos e financeiros alheios aos do país? Face a isto, os apelos à união dos portugueses lançados no dia de Portugal pelo Presidente Cavaco representam tão só um imenso tornado de arrematada hipocrisia…
PROFESSORES CONTRA PAIS E ALUNOS – É o exemplo mais actual. Decretam-se a um mês dos exames nacionais medidas lesivas e profundamente injustas sobre a massacrada classe dos professores, que atacam em simultâneo o cerne da escola pública e incluem a possibilidade de despedimentos massivos, e depois, face à resposta defensiva e legítima dos professores com uma greve que apanha as avaliações e os exames nacionais, vêm a público tentar acusá-los de estarem a prejudicar pais e alunos. E mesmo podendo evitar esse prejuízo, como afirmam os sindicatos, criticam a legitimidade de não haver serviços mínimos e preferem acirrar as hostes…
CONTINENTAIS CONTRA AÇORIANOS E MADEIRENSES – Fingindo ignorar o custo da delegação das funções do estado que transitam para as Autonomias (despesas imputáveis à Administração Central caso aquelas não existissem) preferem ao longo dos anos, perante o país, ir alimentando a falácia do despesismo unidireccional do Estado para com as Regiões, criando campo favorável para atacar agora de forma violenta a Lei de Finanças das Regiões Autónomas e a própria Autonomia…
NOVOS CONTRA VELHOS: “Gerações futuras não podem arcar com as dívidas e as pensões das passadas”…É esta a lenga-lenga apresentada. Só que, além das gerações futuras já estarem a ser obrigadas a emigrar, as passadas, além das dívidas, deixaram riqueza e investimento em novas tecnologias e ciência, em escolas, hospitais e equipamentos públicos. As pensões foram um depósito de descontos diretos ao trabalho, determinado pelos próprios governos, mas que estes posteriormente chegaram a jogar em bolsa ou a desviar para pagar juros a privados e entidades externas. A esperança média de vida subiu, mas a produtividade também. Hoje produz-se muito mais em menos tempo (Entre 1953 e 2011, o crescimento médio da produtividade em Portugal foi de 2,9% ao ano), só que, como diria Mia Couto, em vez de isso estar a gerar riqueza, está a gerar ricos e a aumentar as desigualdades sociais…
DESEMPREGADOS CONTRA EMPREGADOS: Para mais facilmente permitir baixar salários e aumentar o desemprego.
FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CONTRA OUTROS TRABALHADORES: Agitando meias verdades ou falaciosos privilégios de uns sobre os outros, para aumentar a carga horária aos primeiros e decretar o seu despedimento em massa, diminuindo não gorduras mas serviços públicos essenciais a toda a população.
Os apupos e vaias de Beja em Dia de Portugal indiciam que os portugueses começam a não engolir de barato este divisionismo e a unir vozes para demitir quem tão cruelmente os tem tratado em dois anos de mandato!
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 16 de junho de 2013